Cena um: um grupo de adolescentes senta-se à mesa ao lado, sendo uma menor de idade, num ambiente que até alguns anos os jovens apenas ansiavam entrar. Risadinhas a mais, conversas de menos, e uma saca uma câmera digital. O que se segue a partir daí são centenas de cliques, poses, risadas, atormentam o garçom, conversam menos ainda, fotografam, ‘deixa ver’, ‘não gostei, tira outra’, e assim vai. O futuro das fotos? Provavelmente uma pasta com esta centena de imagens, perdidas dentro de um computador que em breve será formatado por entrada de vírus. E lá se vão as fotos...
Cena dois: fim de tarde e um fotógrafo profissional caminha num fragmento de mata amazônica na cidade de Alta Floresta (MT). Carrega uma câmera profissional, uma lente Tele que pesa cerca de cinco quilos. Um teleconverter que duplica sua potência, e seu peso. Está a postos. Vê o vulto de uma harpia pousar numa árvore, pronta pra se recolher na noite que aproxima. Enquanto tenta firmar a lente com as mãos, um turista chega ao lado, e depois de muito custo para encontrar a ave no meio da folhagem, tira seu celular do bolso e mira para a árvore. Faz dois cliques e segue alheio à raridade da cena que teve o privilégio de vivenciar. O futuro das fotos? Um simples ‘delete all’, já que foi difícil o turista lembrar o que existia naquela imagem desfocada e escura. E se o questionassem, diria: ‘Sabe que nem lembro o que eu fotografei? Tinha um gringo com um mega equipamento mirando pra árvore, e eu mirei na mesma direção. Também, com aquele equipamento até eu...’ Continua
por Néle Azevedo
Foto: Tobias Schwarz-Reuters
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Via G1; Jornal da Ciência; Estadão; Gazeta do Povo
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