Por Por Idelber Avelar
14.11.2011
"Eles que façam suas hidrelétricas em suas casas. Por acaso nós fizemos alguma coisa para incomodá-los?"
Está em curso uma grande mobilização do povo Ashaninka contra mais um projeto brasileiro de hidrelétricas na América Latina, desta vez no Peru. Segundo os dados oficiais mais recentes, a população ashaninka do Peru seria de 88.703 indivíduos, ocupando parte das bacias dos rios Apurímac, Ene, Tambo, Perené e Pichis, parte do Alto Ucayali e do Gran Pajonal, na floresta amazônica peruana. No século XIX, os ashaninka foram escravizados pelos caucheiros e, mais recentemente, na década de 1980, sofreram os horrores da guerra civil peruana, sendo atacados tanto pelo exército como pelo Sendero Luminoso. Estima-se que durante a guerra interna, mais de 6.000 ashaninkas foram assassinados, cerca de 5.000 foram sequestrados pelo Sendero, entre 30 e 40 comunidades desapareceram e por volta de 10.000 indígenas foram deslocados forçosamente para outras regiões. O período recente é descrito pelos seus líderes como de relativa paz e prosperidade.
Em junho de 2010, os Presidentes Lula e Alan García assinaram um acordo energético que prevê a construção de 15 hidrelétricas na Amazônia peruana. Em 2008, uma portaria ministerial havia outorgado à Pakitzapango Energia SAC, formada pela Odebrecht e outras empresas brasileiras, uma concessão temporária de 20 meses para conduzir os estudos preparatórios para uma represa de 165 metros de altura no ponto mais estreito do Rio Ene. Depois de concluir um estudo de factibilidade sem realizar os estudos de impacto ambiental ou consultar as comunidades, a Pakitzapango Energia SAC viu a licença vencer em agosto de 2010. O que havia sido uma vitória para os indígenas se transformou num pesadelo quando, em novembro de 2010, o governo peruano outorgou à Odebrecht uma concessão ampliada, que agora inclui também mais duas hidrelétricas, estas no Rio Tambo: a Tambo 40 e a Tambo 60. Continua