sábado, 9 de março de 2013

Hidrelétricas na Amazônia: desenvolvimento para quem?


JC e-mail 4680, de 08 de Março de 2013.
Hidrelétricas na Amazônia: desenvolvimento para quem?


Conheci a cidade de Tucuruí em 1988, quatro anos depois de inaugurada a hidrelétrica que interrompeu o fluxo natural do rio Tocantins. Era, então, um espaço populoso, deteriorado e caótico, impressão que se amplificou ao visitar o núcleo urbano da construtora Camargo Correa, protegido por muros, guaritas e homens armados, com casas amplas e ajardinadas, com um confortável hotel para os hóspedes ilustres e com uma bela vista do vertedouro e do lago formado pela barragem. No tour pela usina, um funcionário da Eletronorte orgulhosamente apontou para uma ilhota, informando que a empresa instalara ali um banco genético das espécies vegetais que ocorrem (ocorriam?) na região, sem nada esclarecer sobre as copas de árvores mortas que emergiam por todo o imenso lago, visão que lembra, de imediato, em qualquer espectador, um cemitério repleto de cadáveres mal enterrados. Inquirido por que as árvores não foram retiradas, o funcionário tergiversou (alguém ainda lembra do escândalo Capemi?).

Os danos sociais e ambientais - para não falar das questões éticas e nem da corrupção - que as grandes obras de infraestrutura provocam na Amazônia já foram plenamente demonstrados por muitos pesquisadores e jornalistas, assim como também já foi comprovado que os efeitos benéficos desses empreendimentos não se localizam na região, isto é, as promessas de desenvolvimento e oportunidades são cumpridas a muitos quilômetros de distância, às vezes, em outros países e continentes. Na região ficam apenas os royalties (a maior parte dos impostos é desonerada pelo governo federal), o passivo ambiental, alguns empregos disputados por hordas de imigrantes e muita miséria e violência. Esse é um efeito perverso, mas não fortuito. A transferência de matéria-prima e energia da Amazônia para outros lugares faz parte de um projeto colonizador gestado na ditadura militar (1964-1985), que define a região como provedora de recursos para o Brasil - e somente isso. Infelizmente, finda a ditadura há quase 30 anos, esta ainda é a visão que prevalece nos círculos de poder mais importantes de Brasília.  Continua