sábado, 18 de maio de 2013
A casta dos dodóis, por Nelson Motta
Via blog do Noblat
17.05.2013
Nelson Motta, O Globo
O país está muito preocupado com a saúde dos funcionários do Senado. Sobrecarregados de trabalho e estressados pelas pressões cotidianas, os combalidos servidores tiraram mais de 87 mil dias de licenças médicas em apenas dois anos, que custaram 50 milhões de reais. E quantos médicos trabalharam milhares de horas para examinar, diagnosticar, receitar e licenciar tantos servidores doentes?
Agora se entende por que o Senado precisa de tantos médicos concursados, terceirizados e comissionados. E por que os senadores voam para o Sírio-Libanês ao menor sintoma de qualquer coisa.
Talvez a saúde dos servidores do Senado seja mais frágil e sujeita a doenças do que a dos funcionários da Ford, da Ambev ou do Bradesco. Não seria o caso de contratar pessoas mais saudáveis para o Senado? Ou dar-lhes um adicional de insalubridade?
Imaginem se uma empresa privada com 10 mil funcionários — do tamanho do Senado, mas produzindo bens ou serviços para a população — tivesse esse volume de faltas. Falência ou demissão em massa? Nem dinheiro do BNDES daria jeito.
A verdade é que, mesmo com esse volume colossal de faltas, ninguém notou diferenças no funcionamento do Senado, nenhum projeto deixou de ser votado, nenhuma comissão deixou de funcionar, nenhuma determinação da Mesa deixou de ser cumprida. Ou seja, não fizeram a menor falta. Provaram que o Senado pode viver muito bem sem eles.
Já estou esperando a carta furibunda da associação dos funcionários do Senado, repudiando a crônica debochada, desclassificando o cronista, e enaltecendo a eficiência e probidade da corporação, exigindo respeito pelos servidores públicos. E o clássico “não é justo culpar todos pelas eventuais falhas de alguns poucos”, embora ninguém os tenha acusado coletivamente.
Podem até dizer, à la Mantega, que o índice de faltas é só um pouco mais alto do que os padrões da iniciativa privada, mas vai cair. E talvez tenha sido motivado pela secura do ar de Brasília, talvez por epidemias de gripe que assolaram o Planalto.
Mas não há remédio para falta de vergonha na cara e de respeito pelo dinheiro suado do contribuinte.
Nelson Motta é jornalista.
17.05.2013
Nelson Motta, O Globo
O país está muito preocupado com a saúde dos funcionários do Senado. Sobrecarregados de trabalho e estressados pelas pressões cotidianas, os combalidos servidores tiraram mais de 87 mil dias de licenças médicas em apenas dois anos, que custaram 50 milhões de reais. E quantos médicos trabalharam milhares de horas para examinar, diagnosticar, receitar e licenciar tantos servidores doentes?
Agora se entende por que o Senado precisa de tantos médicos concursados, terceirizados e comissionados. E por que os senadores voam para o Sírio-Libanês ao menor sintoma de qualquer coisa.
Talvez a saúde dos servidores do Senado seja mais frágil e sujeita a doenças do que a dos funcionários da Ford, da Ambev ou do Bradesco. Não seria o caso de contratar pessoas mais saudáveis para o Senado? Ou dar-lhes um adicional de insalubridade?
Imaginem se uma empresa privada com 10 mil funcionários — do tamanho do Senado, mas produzindo bens ou serviços para a população — tivesse esse volume de faltas. Falência ou demissão em massa? Nem dinheiro do BNDES daria jeito.
A verdade é que, mesmo com esse volume colossal de faltas, ninguém notou diferenças no funcionamento do Senado, nenhum projeto deixou de ser votado, nenhuma comissão deixou de funcionar, nenhuma determinação da Mesa deixou de ser cumprida. Ou seja, não fizeram a menor falta. Provaram que o Senado pode viver muito bem sem eles.
Já estou esperando a carta furibunda da associação dos funcionários do Senado, repudiando a crônica debochada, desclassificando o cronista, e enaltecendo a eficiência e probidade da corporação, exigindo respeito pelos servidores públicos. E o clássico “não é justo culpar todos pelas eventuais falhas de alguns poucos”, embora ninguém os tenha acusado coletivamente.
Podem até dizer, à la Mantega, que o índice de faltas é só um pouco mais alto do que os padrões da iniciativa privada, mas vai cair. E talvez tenha sido motivado pela secura do ar de Brasília, talvez por epidemias de gripe que assolaram o Planalto.
Mas não há remédio para falta de vergonha na cara e de respeito pelo dinheiro suado do contribuinte.
Nelson Motta é jornalista.