10.05.2013
Por Sasha Chavkin de El Salvador (Center for Public Integrity) / A Pública
Nos últimos dois anos, o Center for Public Integrity tem denunciado um tipo raro de doença renal crônica (DRC) que está matando milhares de camponeses da costa do Pacífico da América Central, do Sri Lanka e da Índia. Cientistas ainda não desvenderam completamente a causa desse mal, ainda que provas recentes apontem metais pesados tóxicos contidos em pesticidas como potenciais culpados.
Depois de anos sem iniciativas oficiais dos Estados Unidos e de outros lugares, a declaração feita em San Salvador reconheceu formalmente – pela primeira vez – a existência da doença e os grupos que afeta: “comunidades agrícolas socialmente vulneráveis ao longo da costa do Pacífico na América Central”, assinala a declaração aprovada pelo Conselho de Ministros da Saúde da América Central. E acrescenta: “É predominante entre homens jovens e tem sido associada a ambientes tóxicos e fatores ocupacionais de risco, desidratação e hábitos nocivos para a saúde renal”.
Entre ações anunciadas estão a realização de estatísticas mais detalhadas da DRC, o desenvolvimento de planos regionais e nacionais para investigar e tratar a doença e a promoção de medidas regulatórias mais fortes para o uso de agrotóxicos.
Um mal que afeta os pobres
A declaração representou uma grande vitória para El Salvador e sua ministra da saúde, a Dra. Maria Isabel Rodriguez. Essa senhora de noventa anos, um metro e meio de altura e os olhos cobertos por enormes óculos, tem sido a força motriz que catapultou a doença da obscuridade para um reconhecimento formal como principal ameaça à saúde pública na região.
“Essa é uma doença de pessoas pobres”, diz Rodriguez. “Uma doença de pessoas que trabalham nos campos e tem condições de vida muito ruins”.
O resultado marcou uma reviravolta nos Centros dos Estados Unidos para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), que em 2011 ajudaram a derrotar um esforço de El Salvador para declarar prioridade ao tratamento da doença. O CDC diz agora que dedicou “centenas de milhares” de dólares para apoiar a investigação sobre a doença, criou uma força-tarefa multidisciplinar interna na América Central, e se comprometeu a ajudar no financiamento de uma pesquisa nacional em El Salvador para medir a relevância de doenças crônicas, incluindo a DRC.
“Nós temos o compromisso de dar apoio para acompanhar e fortalecer as investigações dos ministérios de saúde,” diz Dr. Nelson Arboleda, o diretor do CDC para a Região da América Central.
A conferência de San Salvador também marcou um limiar na cooperação internacional para o combate a essa doença misteriosa. Após anos de luta de pesquisadores na América Central tentando estabelecer uma ligação entre enfermidade semelhante na Ásia, o Sri Lanka enviou uma delegação oficial para El Salvador e pediu que a América Central considerasse os resultados das pesquisas e as políticas de combate à doença no país asiático como modelos para ações futuras na América Central.
“Nós temos provas clínicas, bioquímicas e histopatológicas o suficiente para dizer que se trata da mesma doença,” afirma Channa Jayasumana, representante do Sri Lanka na conferência que aconteceu em El Salvador.
No Sri Lanka, de acordo com um relatório oficial, mais de 8 mil pacientes estão recebendo tratamento por DRC de causa desconhecida, um número que representa apenas uma fração da quantidade de pessoas afetadas pela doença, que fica em estado latente até seus estágios avançados. Mais de 16 mil homens morreram de falência renal na América Central de 2005 a 2009. As mortes anuais mais que triplicaram desde 1990, de acordo com análise dos dados coletados pela Organização Mundial de Saúde. Em El Salvador, a DRC se tornou a principal causa de mortes hospitalares entre os homens adultos. CONTINUA!