A música, assim como outras manifestações culturais e artísticas, é capaz de despertar sentimentos e reviver lembranças. É um universo de significados, representações e percepções distintas, tornando possível afirmar que cada pessoa a perceberá de um modo diferente. Esse tipo de arte aciona diversas áreas do cérebro humano, podendo ainda induzir atos, pensamentos e emoções, como ocorre com a música religiosa, romântica ou com uma mais agitada.
Para a docente e pesquisadora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, Sílvia Nassif, a música representa um dos sistemas simbólicos mais significativos culturalmente. “Ela acompanha praticamente todos os momentos ritualisticamente importantes nas nossas vidas. Esse fato faz com que sigamos construindo relações de afeto com certos tipos de música, relações essas que são acessadas em presença de determinadas músicas. Podemos dizer que há, portanto, um nível coletivo (grupos culturais com determinadas identidades tendem a ouvir afetivamente de modo semelhante) e um nível individual (experiências pessoais, audições afetivamente individualizadas), nos modos de apreensão emotiva da música”, diz Nassif, que trata dessa questão também no artigo “Musicalidade, desenvolvimento e educação: um olhar pela psicologia vigotskiana”.
Caroline Pacheco, mestre em cognição e filosofia da música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), também explora esse caráter social e pessoal das experiências musicais. Segundo ela, “dificilmente, uma pessoa irá se sentir feliz ou realizada ouvindo uma música que faz com que ela recorde um momento triste. Ou, ainda, ninguém vai a uma festa para dançar ao som do Réquiem, de Mozart, uma vez que tal música está associada à morte”. Ou seja, as construções sociais do grupo no qual estamos engajados, são também responsáveis pelo tipo de reação que teremos ao ouvir ou fazer uma música. “Nossas experiências pessoais e sociais, além de nossa memória (evidentemente) é que dirão que lembrança, desejo ou emoção será ativada ao ouvir, dançar, cantar ou tocar determinada música”, explica Pacheco.
Mas como a música é recebida pelo cérebro? Quais áreas são afetadas e que reações ela provoca no organismo humano?
Após o som ser transmitido por moléculas através do ar, ele chega ao tímpano, que se agita para dentro ou para fora, conforme a amplitude e volume do som que recebe, e também da altura desse som, isto é, se ele é grave ou agudo. Entretanto, nesse estágio, o cérebro recebe apenas uma informação incompleta, sem distinção do que o barulho realmente representa – se ele é de vozes, do vento, de máquinas etc. O resultado final, decodificado pelo cérebro, representa uma imagem mental do mundo físico, que é gerado a partir de uma longa cadeia de eventos mentais.
O primeiro processo dessa cadeia, pode-se dizer que é a “extração de características”, quando o cérebro apenas percebe as características básicas da música, por meio das redes neurais especializadas. Nessa fase, o som é decomposto em elementos básicos como altura, timbre, localização no espaço, intensidade, entre outros. Isso ocorre nas partes periféricas do cérebro. O segundo passo ocorre nas partes superiores cerebrais, quando é preciso integrar essas informações básicas adquiridas, de forma a obter uma percepção completa. Continua
Imagem: capturada do filme
indicado no final do artigo.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Os efeitos da música no cérebro humano
Via Revista ComCiência - Por Por Carolina Octaviano
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