Por Paloma Rodrigues - paloma.rodrigues@usp.br
27.09.2011
Oralidade é forte característica da literatura rosiana, o que dificulta a tradução |
Segundo Márcia, não se pode pensar que traduzir é uma ação que consiste em passar de uma língua para outra automaticamente. No caso de Rosa, os tradutores contaram com a ajuda direta do autor, o que facilitou e norteou os trabalhos. Cabe destacar que ele nada impunha: sugeria termos, recolocava frases, mas sempre respeitando a opinião do tradutor e sua decisão final. “Rosa queria muito ser traduzido, mas sabia da dificuldade dessa tradução. Ele dizia: ‘eu escrevo para o infinito’ e isso queria dizer que ele não se limitaria a uma única língua”, diz. As correspondências de Rosa com tradutores alemães, americanos, franceses e italianos foram um dos fundamentos do trabalho de doutorado e serviram para precisar como ele concebia a própria obra e o que esperava de seus tradutores. Esse processo de auxílio de Rosa, por intermédio das correspondências, foi base para o trabalho de Márcia e serviu para apontar as dimensões da obra.
Durante a produção da versão de 1960, o tradutor Jean-Jacques Villard e Rosa trocaram inúmeras correspondências, base para a análise de Márcia. Rosa explica não apenas sua literatura, como questões da botânica brasileira, facilitando a aproximação e adequeção da língua francesa ao original em português. Villard forjou um Diadorim — título de Grande Sertão: veredas em francês — que foi comparado com um autor que subverteu a linguagem litetária clássica a partir da “língua falada”.
A tradução de Villard ajudou a impulsionar a figura de Guimarães Rosa na França. Villard aproveitou o léxico e a sintaxe francesa para deixar a versão mais próxima da oralidade. O uso de léxico comum, que se afastava do “empolamento” da literatura clássica, facilitou o processo de deslocamento da língua francesa, o que vai de encontro ao espírito da literatura rosiana. Continua