quinta-feira, 2 de maio de 2013

Soja, cana e pecuária avançam sobre o Centro-Oeste

Via Jornal da UNICAMP
22 de abril de 2013 a 29 de abril de 2013 – ANO 2013 – Nº 558
Por MANUEL ALVES FILHO

O crescimento da produção de soja, cana-de-açúcar e pecuária bovina no Centro-Oeste do Brasil, registrado em anos recentes, se deu principalmente por causa da ocupação de novas áreas. Como consequência do avanço da fronteira agrícola, a região tem registrado a substituição de culturas, a degradação de solo e o desflorestamento. As constatações fazem parte da tese de doutorado de Vivian Helena Capacle Correa, defendida no Instituto de Economia (IE) da Unicamp, sob a orientação do professor Walter Belik. A autora contou com bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação, e Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

De acordo com Vivian, embora o rendimento das três atividades tenha aumentado, em razão da adoção de manejos adequados e de tecnologias avançadas, como o uso de novos cultivares, é a ocupação de novas áreas que tem impulsionado o crescimento da produção no Centro-Oeste. O avanço em direção à região, conforme a pesquisadora, tem sido estimulado por diversos fatores. Entre eles está a disponibilidade de terras. “São Paulo continua sendo o maior produtor de cana-de-açúcar do país, mas o Estado já está saturado. Assim, a alternativa encontrada pelas usinas para atender à crescente demanda por etanol, por exemplo, é levar a cultura para outras áreas, notadamente os estados do Centro-Oeste”, explica.

Outro aspecto que tem atraído o interesse dos produtores pela região é a disposição das prefeituras em oferecer incentivos como a anistia de impostos ou a doação de terras. Durante o trabalho de campo que realizou para a pesquisa do seu doutorado, Vivian teve a oportunidade de entrevistar inúmeros atores envolvidos com o tema, entre eles prefeitos. “No contato que tive com eles, alguns admitiram que os municípios ofereciam esses estímulos porque a chegada dos empreendimentos agropecuários traziam vantagens como a geração de emprego e o fortalecimento da economia local”, relata a pesquisadora.

É o que teria ocorrido na cidade de Quirinópolis, em Goiás, com a chegada da Usina Boa Vista, do Grupo São Martinho, um dos maiores do Brasil no segmento sucroalcooleiro. A usina pretende moer oito milhões de toneladas de cana por safra, estabelecendo-se como a maior unidade processadora em atividade no Brasil. “Na entrevista, o prefeito me disse que o município cedeu a área da unidade industrial da usina e os programas de redução de impostos atraíram a empresa para a sua cidade. Ainda segundo ele, com a chegada da Boa Vista e a expansão da cana-de-açúcar houve a geração de novos postos de trabalho e o aumento da arrecadação de impostos. Graças a isso, ele disse ter conseguido ampliar a oferta de serviços à população, através da construção de postos de saúde e creches”, informa Vivian.

IMPACTO AMBIENTAL

Se o segmento econômico experimentou avanços em alguns municípios do Centro-Oeste a partir desse movimento, o mesmo não se pode dizer do meio ambiente, conforme constatou a investigação promovida por Vivian. A autora da tese afirma que a expansão das três atividades analisadas no seu trabalho, notadamente a plantação de cana, tem provocado mudanças na região. Uma delas diz respeito à substituição de culturas. O arroz e o feijão, que foram importantes para a região, perderam espaço para os canaviais. Além disso, a própria pecuária extensiva, que também sempre se destacou naquele pedaço do país, tem sido gradativamente substituída pela cana.

Vivian explica que a cana chegou ao Centro-Oeste no momento em que a pecuária começava a apresentar declínio. “Por causa disso, muitos pecuaristas decidiram vender ou arrendar as suas terras para o plantio de cana. Alguns desses produtores passaram a viver de renda e foram morar nas cidades. Outros, porém, transferiram a produção para áreas mais distantes. Embora uma corrente diga que eles se instalaram na própria região, há registros de que muitos deles estão migrando em direção ao Norte, inclusive para o Pará, sob o bioma Amazônia, onde estão implantando novas pastagens, algumas em terras ocupadas originalmente por florestas. “O resultado dessa migração é perceptível. Em Goiás, eu visitei um frigorífico dotado de equipamentos moderníssimos, mas que está desativado. A explicação é a de que já não há mais nas imediações produtores que forneçam animais para o abate”, aponta a autora da tese.

Nas entrevistas que fez com políticos e gestores públicos, Vivam diz ter apurado dois pontos fundamentais em relação à questão da degradação do meio ambiente. Um deles é o fato de não haver uma consciência ambiental difundida entre as sociedades locais. “O prefeito de Quirinópolis, por exemplo, reforçou que ele quer mais é que a cana tome mesmo conta das áreas agrícolas do município. A preocupação mais imediata é com o crescimento econômico e a geração de empregos”, conta. O outro ponto refere-se à inexistência de políticas de zoneamento econômico e ecológico no Centro-Oeste como um todo. Com exceção de Mato Grosso do Sul, que conta com zoneamento próprio, os outros dois estados, Mato Grosso e Goiás, não dispõem de legislação nesse sentido.

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