Agência Brasil
Via EcoDebate
04.03.2014
O diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, defendeu ontem (3) medidas restritivas para o Sistema Cantareira, pois, segundo ele, não há solução técnica de engenharia possível no curto prazo para resolver o problema de abastecimento da região metropolitana de São Paulo e da Bacia do Rio Piracicaba, que abastece a região de Campinas.
“Os dirigentes [da região] têm que tomar medidas preventivas, pois são necessárias no curto prazo”, disse Guillo, em audiência pública na Câmara dos Deputados.
O nível do manancial chegou ontem (03/04) à menor marca de sua história, com 13,2%% da capacidade total.“Temos que atuar com cenários restritivos, e a população é mais compreensiva do que os políticos imaginam. E, quando se toma uma medida restritiva, é no benefício da população. Temos que usar o volume morto [do sistema] com parcimônia e torcer para que chova”, completou.
O Cantareira é o maior reservatório de água de São Paulo e abastece quase 9 milhões de pessoas na região metropolitana. A situação atual é a pior desde que o sistema foi criado, na década de 1970.
Guillo defende uma solução negociada entre os governos de São Paulo e do Rio de Janeiro sobre a proposta paulista de captar água na Bacia do Rio Paraíba do Sul. A intenção do governo paulista é interligar um dos rios da bacia ao Sistema Cantareira que, por falta de chuva, registra os piores níveis dos últimos 40 anos.
“A ANA está fazendo um esforço para colocar à mesa São Paulo e Rio de Janeiro para fazer essa discussão e buscar uma solução integrada. A discussão entre São Paulo e Rio de Janeiro, no começo, me pareceu que tinha mais a ver com voto do que a ver com água. Estamos vivendo um problema que está inserido dentro de um quadro político-eleitoral”, disse Guillo.
Para o coordenador do Programa Mananciais, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Ricardo Araújo, a captação de parte [das águas] do Rio Paraíba do Sul é importante para a recuperação dos reservatórios do Sistema Cantareira.
“Acreditamos que, do ponto de vista técnico, essa solução é plenamente justificável e não prejudica ninguém. Estamos numa fase em que precisamos avançar mais nas conversas [entre Rio e São Paulo]. Não acredito que haja regiões que sejam proprietárias de água. São Paulo tem necessidade enorme dessa água, sob risco de situações muito mais graves”, alertou Araújo.
Segundo ele, a vazão que atualmente é captada no Sistema Cantareira é, em tese, de racionamento. “Estamos captando pouco menos de 25 mil litros de água por segundo. Há um déficit de 6 mil litros por segundo, que estamos compensando por meio de bônus à população, quando ela economiza água, e da transferência de outros sistemas de abastecimento de água de São Paulo para a área de atendimento do Cantareira, particularmente do Sistema Guarapiranga e do Alto Tietê”, ressaltou.
Araújo ressaltou, porém, que tais medidas ainda não são suficientes para recuperar o Sistema Cantareira, que continua decaindo. “Do ponto de vista de curto prazo, para 2014, não há solução. Temos que tentar manter o abastecimento dentro das restrições. Um aporte novo de água que supere a falta de chuva anterior é impossível”, afirmou.
De acordo com o deputado Guilherme Campos (PSD-SP), o racionamento de água para a região afetada já deveria ter começado em janeiro. “Não vejo outra alternativa para a região no curto prazo que não seja o racionamento. Hoje, o volume de água reservado no Sistema Cantareira está em torno de 13%. Há um ano, estava na ordem de 60%”, disse.
Reportagem de Ana Cristina Campos, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 04/04/2014