Por Anne Vigna
18.03.2014
Para Wilson Jardim, da Unicamp, único jeito de melhorar a qualidade da água é cobrar para que concessionárias usem novas tecnologias de tratamento
Você aconselha a beber água envasada?
Não. Pelo contrário. Os vendedores de água envasada dizem que “a água da torneira é muito ruim”. Na verdade, o produto deles não é recomendável. Fizemos estudos com água envasada e a quantidade de ftalato que uma pessoa absorve ao bebê-la é muito grande. O ftalato é uma classe de substâncias químicas agregadas a uma série de produtos comuns no consumo, como, por exemplo, as embalagens, o filme transparente e as garrafas descartáveis. Como aumentou muito o uso de embalagens, estamos mais expostos ao ftalato, que também tem propriedades de interferentes endócrinos. Ao beber água envasada, talvez você esteja trocando seis por meia dúzia. A pessoa pode se sentir mais segura ao fazer isso, mas esse sentimento não tem base científica. Dependendo do tempo em que foi engarrafada e do tempo de prateleira, essa água libera muito ftalato. Também pode ter Bisfenol A (BPA), dependendo da resina [do recipiente]. Quando você faz um estudo de ciclo de vida, de sustentabilidade, analisando conteúdo energético e produção de CO2, a água da torneira ganha de dez a zero da envasada, que tem que ser produzida e transportada. É uma indústria que goza de uma falsa reputação: são produtos altamente impactantes que têm a fama de serem benéficos. É um mito. Não há grandes vantagens por causa da embalagem, que vai ficar tóxica com o tempo. Quando compro água envasada, só compro em vidro, nunca em plástico. Vários estudos no estado de São Paulo, no Aquífero Guarani, mas também na China ou Espanha comprovam que as águas subterrâneas também têm compostos, em concentração bem menor do que a das águas superficiais. CONTINUA!