JC e-mail 4924, de 01 de abril de 2014
Alunos brasileiros ficam entre os piores em teste de raciocínio lógico
Pela primeira vez, Pisa avaliou habilidades cognitivas de estudantes de 44 países. Brasil ficou apenas com a 38ª colocação
Os estudantes brasileiros têm sérias dificuldades para resolver problemas de matemática aplicados à vida real. É o que mostram os resultados de um novo teste do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados nesta terça-feira pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil ficou apenas com 38ª colocação entre os 44 países participantes.
É a primeira vez que a OCDE realiza este teste, que buscou avaliar mais as habilidades cognitivas dos estudantes do que seu conhecimento de conteúdo matemático. Participaram do exame cerca de 85 mil alunos, todos com 15 anos de idade. Os adolescentes de Cingapura e Coreia do Sul alcançaram as melhores pontuações nessa avaliação. Veja o ranking completo no final da reportagem.
"Os alunos de 15 anos com dificuldades para resolver problemas serão os adultos de amanhã lutando para encontrar ou manter um bom emprego", disse Andreas Schleicher, diretor interino de Educação da OCDE. "As autoridades e educadores devem rever seus sistemas de ensino e currículos para ajudar os estudantes a desenvolver suas habilidades para resolver problemas, cada vez mais necessárias nas economias atuais".
A OCDE é conhecida por divulgar, a cada três anos, os resultados gerais do Pisa, que, na sua última edição, em 2012, avaliou estudantes de 65 países com provas de matemática, ciência e leitura. Divulgados em dezembro do ano passado, os resultados desses exames mostraram uma realidade péssima para o Brasil. Apesar de uma melhora em matemática desde 2003, quando o Pisa começou, o país estava na 58ª posição, bem abaixo da média nas três disciplinas.
A prova de matemática do Pisa já mostrava as dificuldades dos alunos brasileiros com problemas que pediam raciocínio lógico e conhecimentos básicos da disciplina. Apenas 33% dos alunos de 15 anos do país conseguiram resolver questões com o grau de complexidade mais baixo. Para muitos especialistas, o problema está justamente nos problemas de leitura. A maioria dos nossos estudantes não consegue interpretar o enunciado da questão.
'Um alerta'
A diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, lamenta o baixo desempenho dos alunos brasileiros na avaliação, mas diz que os dados estão longe de surpreender.
- Estamos falando de jovens de 15 aos, que estão ou no Ensino Fundamental II ou no Ensino Médio. Pesquisas nossas mostram que, desse grupo, apenas 17% dos alunos chegam ao final do ano tendo aprendido o conteúdo adequado de matemática. Portanto, esse resultado não nos surpreende - avalia.
Para a diretora, o levantamento traz um sério alerta sobre o futuro "muito próximo" destes estudantes - que chegarão em breve ao mercado de trabalho. Priscila avalia que esses meninos não estão tendo seu direito à educação plenamente garantido no país. Outro fator grave, segundo a especialista, é o fato de a matemática ser ensinada em sala de aula totalmente descontextualizada da realidade dos alunos.
A análise do Todos pela Educação é de que o ensino, de uma vez por todas, deve servir para a vida do aluno e não apenas para o repasse de conteúdo. Ela ainda atribui ao Congresso Nacional grande parcela de responsabilidade pelos problemas no ensino específico da matemática.
- O Congresso foi aprovando a inclusão de outras disciplinas, sem que as escolas tivessem dado conta, sequer, daquelas básicas, como matemática e português.
Priscila Cruz ainda questiona a formação do professor de matemática no país e o tempo de permanência do aluno em sala de aula, que não passa de 3 horas/dia em média.
- Temos que melhorar a formação do professor. Para se ter ideia, no ensino fundamental II, apenas 35% dos professores da disciplina têm formação. E destes, muitos saem da faculdade sem preparo ou estratégias para aplicar a disciplina em sala de aula. Outro problema grave é esse pequeno período de permanência do aluno em sala. Acaba, claro, sobrando muito pouco tempo para a matemática.
Veja o ranking completo
1º - Cingapura, 562 pontos
2º - Coreia do Sul, 561
3º - Japão, 552
4º - China/Macau, 540
5º - China/Hong Kong, 540
6º - China/Xangai, 536
7º - China/Taipé, 534
8º - Canadá, 526
9º - Austrália, 523
10º - Finlândia, 523
11º - Reino Unido, 517
12º - Estônia, 515
13º - França, 511
14º - Holanda, 511
15º - Itália, 510
16º - República Tcheca, 509
17º - Alemanha, 509
18º - Estados Unidos, 508
19º - Bélgica, 508
20º - Áustria, 506
21º - Noruega, 503
22º - Irlanda, 498
23º - Dinamarca, 497
24º - Portugal, 494
25º - Suécia, 491
26º - Rússia, 489
27º - Eslováquia, 483
28º - Polônia, 481
29º - Espanha, 477
30º - Eslovênia, 476
31º - Sérvia, 473
32º - Croácia, 466
33º - Hungria, 459
34º - Turquia, 454
35º - Israel, 454
36º - Chile, 448
37º - Chipre, 445
38º - Brasil, 428
39º - Malásia, 422
40º - Emirados Árabes, 411
41º - Montenegro, 407
42º - Uruguai, 403
43º - Bulgária, 402
44º - Colômbia, 399
(O Globo)