sábado, 22 de agosto de 2009

"Muitas mortes por gripe suína poderiam ser evitadas"

Via ISTOÉ - Por Mônica Tarantino


Autoridade em infecções respiratórias, a cientista explica por que a falta de leitos e de acesso ao remédio criou uma taxa "absurda" de letalidade no Brasil



CUIDADO
A especialista diz que os médicos precisam aprender
a identificar os casos graves da doença



Desde que começou a pandemia de gripe suína, em abril deste ano, o número de horas de trabalho diárias da infectologista Nancy Bellei, 47 anos, subiu de nove para 14. A maior parte desse tempo é dedicada ao estudo do vírus H1N1 - agente responsável pela gripe suína - e ao atendimento dos pacientes com suspeita da doença internados no hospital da Universidade Federal de São Paulo. Preocupada com a qualidade da assistência, ela diz que muitas mortes poderiam ter sido evitadas. Nancy tem dezenas de artigos publicados em revistas científicas internacionais e é pós-doutorada em vírus Influenza, o causador das gripes. Nesta entrevista concedida à ISTOÉ, a médica critica os rumos do controle da epidemia no Brasil. Até a terça-feira 18, o País registrava 368 mortes por H1N1 e tinha 3.087 casos confirmados.

ISTOÉ - A taxa de letalidade da gripe suína no Brasil está em torno de 12%. O que isso significa?
Nancy - Esse índice se refere ao percentual de mortes entre pessoas internadas. Até agora, foram hospitalizadas cerca de seis mil pessoas no Brasil com sintomas graves e suspeita de gripe.

Dessas, cerca de 1,5 mil tinham testes confirmados. Entre essas últimas, em torno de 12% morreram. Isso é um absurdo. É um índice altíssimo. Uma taxa baixa seria algo em torno de 2% para esses pacientes, já que, como dizem, é uma doença que raramente mata. Se fosse mesmo assim, não deveria ser de 12%.

ISTOÉ - Qual a causa disso? É a sobrecarga de pacientes nos serviços de saúde?
Nancy Bellei - Não. As pessoas não estão em pânico. Pânico é quando o indivíduo dá o primeiro espirro e corre para o pronto-socorro. Mas o que estamos vendo no serviço público é as pessoas chegarem entre 48 e 72 horas depois de os sintomas aparecerem, quando pode ser tarde demais.

E algumas vêm após terem passado por outros serviços. Eu mesma atendo pacientes com sintomas intensos que passaram por outros médicos, mas não tiveram indicação do remédio.

ISTOÉ - Então são os médicos?
Nancy - No Brasil, faltou e ainda falta treinamento para os profissionais que atendem nos postos e prontosocorros para identificar os casos graves e que podem se complicar.

Continua!