18.06.2011
Felipe Oda, Jornal da Tarde
O rosto da cozinheira Emília Alves Soares, de 55 anos, está formigando. É com a fala embolada que ela conta à reportagem sobre o cancelamento da cirurgia de aneurisma cerebral pela qual deveria ter passado na último dia 3, no Hospital das Clínicas.
A paciente faz parte das centenas de pessoas que enfrentam a paralisação das cirurgias endovasculares eletivas para o tratamento da doença no País, suspensas porque o Ministério da Saúde reduziu o valor destinado à compra do material usado nesse tipo de procedimento.
Apesar dos sintomas, casos como o de Emília têm sido tratados como eletivos há três meses nos hospitais brasileiros. Por isso, ela foi orientada a voltar para casa e a retornar apenas se houvesse sangramentos. Quando isso ocorre, significa que o aneurisma já se rompeu, situação que provoca a morte imediata de 40% dos pacientes não operados, segundo a Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica (SBNRDT).
Dos sobreviventes, metade fica permanentemente incapaz para trabalhar. “Estou entregue à sorte”, lamenta Emília.
Outra opção à cirurgia endovascular, minimamente invasiva, é passar pelo tratamento tradicional, com abertura do crânio, considerado ultrapassado e mais arriscado por grande parte dos médicos. Um dos problemas associados a essa técnica é a maior possibilidade de reincidência. Emília, por exemplo, já passou por essa técnica e, depois de oito meses, foi diagnosticada com aneurisma outra vez.
O problema com o material começou em 16 de dezembro de 2010, quando o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº694, que reduziu, inicialmente, de R$ 2.230 para R$ 1.100 o valor pago para cada espiral de platina usado na cirurgia. Hoje, o valor está em R$ 1.350. São necessários de cinco a 12 espirais por procedimento – a operação pode chegar, portanto, a cerca de R$ 30 mil.
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