Via blog do Noblat
Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
24.06.2011
Gosto de quem gosta deste céu deste mar desta gente feliz...*
Bem que eu também queria escrever um poema de amor para esta cidade onde, como diz outro poeta, “o poente na espinha das tuas montanhas quase arromba a retina de quem vê” **.
Não sei se o mesmo acontece com alguns de vocês, mas marco as cidades que amo com músicas. Bastam os primeiros acordes e vejo a cidade, sinto suas ruas, a saudade me derruba.
São poucas as que provocam em mim tal sentimento. Falo de amor e para amar uma cidade como amo o Rio é preciso viver nela, dela fazer parte, ter a vida entretecida com suas ruas e bairros, conhecer seus segredos e suas manhas.
Foi aqui que aprendi a viver: desde as primeiras letras ao primeiro beijo, desde o primeiro amigo ao primeiro amor, desde as mais estraçalhantes dores até as mais profundas alegrias, aqui estão plantadas minhas recordações – como sempre com uma exceção para confirmar a regra – meu único filho não nasceu aqui. Mas é tão ou mais carioca do que eu: sou paulistana que veio para cá com dois anos, ele recifense que veio bebê de três meses...
Há muito sinto os horrores que têm feito com o Rio. Parece uma disputa: qual o administrador que mais vai enfear a cidade? Quem será o gênio que vai conseguir esconder para sempre a beleza do Rio? Qual deles tapará o tal poente que arromba a retina, ou conseguirá que o Cristo feche os braços sobre a Guanabara***?
Pior: qual deles conseguirá nos marcar como o tipo do brasileiro do qual o estrangeiro deve fugir? Ou melhor: qual deles, ao destruir nossas belezas, deixará à mostra, em toda a sua pequenez, o espírito fraco do político carioca e o péssimo eleitor que somos e aí, finalmente, reagiremos?
Dois exemplos, dois momentos diferentes, dois seres opostos em tudo, mas com um traço comum: o desrespeito ao eleitor.
Será que o ex-deputado Indio da Costa não percebeu que sua desculpa em não enfrentar o bafômetro era um desrespeito conosco? Uma taça de vinho no almoço, trabalho a tarde inteira e às 11 da noite o bafômetro acusaria alto teor alcoólico em seu sangue?
Será que o governador Sergio Cabral acreditou, por um minuto sequer, que ia ser possível esconder que ele estava em Porto Seguro no momento da tragédia que feriu seu filho? Será que ele acha que suas ligações com empreiteiros fazem parte do pacote que o eleitor deve engolir? Será que ele acha que nós acreditamos que Eike Batista seria seu amigo fraterno caso ele não fosse governador do Rio?
Como disse acima, são dois exemplos diferentes em tudo. Ou quase tudo: têm em comum, infelizmente, a falta de respeito conosco, o eleitor, o contribuinte, o cidadão.
* Valsa de uma cidade, Ismael Neto e Antonio Maria
** Carioca, Chico Buarque
*** Samba do avião, Tom Jobim
***
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