quinta-feira, 4 de agosto de 2011

É perverso expor uma garota ingênua a comparações com Liz Taylor

Via blog do Noblat
Por Augusto Nunes
04.08.2011

Interpretar personagens de William Shakespeare não é coisa para qualquer ator, muito menos para principiantes: todas as criaturas do genial dramaturgo inglês são complexas demais para que artistas apenas esforçados possam incorporá-las.

Interpretar uma figura como Katharina, protagonista da comédia The Taming of the Shrew (“A Megera Domada”, na tradução brasileira), é coisa para gente grande. Só atrizes do primeiro time aceitam o papel, sobretudo depois da versão cinematográfica dirigida por Franco Zefirelli e estrelada por Elizabeth Taylor.

Ser Katharina sempre foi difícil. Ser a Katharina que Liz Taylor foi é impossível.

Caso a peça fosse encenada por um grupo de teatro de colégio, a complacência que merecem adolescentes que sonham com a carreira teatral autorizaria Bia Lula a acreditar que pode transformar-se na Katharina de Shakespeare, em Catarina da Rússia ou em Katherine Hepburn.

Os R$ 300 mil bancados pelos contribuintes e repassados pela Oi a título de patrocínio mudam tudo. Verbas desse porte não contemplam amadores que ainda engatinham no palco. São reservadas a nomes consagrados, e com eles a neta de Lula será confrontada.

O avô decerto dirá que comparar Bia a Liz é coisa de gente perversa. Perverso é quem estimula uma jovem de 16 anos a correr o risco de ser comparada a Elizabeth Taylor.

Desses perigos minha gente me livrou. Somados os quatro mandatos obtidos nas urnas, Adail Nunes da Silva foi prefeito de Taquaritinga durante 16 anos ─ e prefeito, numa cidade com 30 mil habitantes, é mais que presidente. (No fim dos anos 50, uma tia professora perguntou, numa prova de conhecimentos gerais, quais eram os três Poderes da República . “Adail”, “Nunes” e “Silva”, escreveu um aluno).

Mas ele me ensinou muito cedo que quem é prefeito também deixa de sê-lo, que o poder é efêmero, que a passagem pelo planalto precede a volta à planície, que nenhuma trajetória política desenha curvas sempre ascendentes.

Não aceitem convites para fazer o que vocês não sabem, vivia dizendo aos três meninos. Quem faz isso está enganando o filho para iludir o pai. Minha mãe era ainda mais direta: “Não façam papel de bobo nem andem com o rei na barriga”.

Professora primária, dona Biloca nunca permitiu que algum de nós levasse lanche para o grupo escolar. “Vocês comem antes e depois das aulas, os meninos da roça não comem quase nada o dia inteiro”, resumia.

Leia a íntegra em A perversidade dos que expõem uma garota ingênua a comparações com Liz Taylor


Leia também:
- Oi banca R$ 300 mil de peça estrelada por neta de Lula
- A Oi apostou na neta ou investiu no avô?