sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Homero Icaza Sánchez: um poeta que mudou a televisão brasileira

Via Estadão
Por Washington Novaes
02.09.2011

Poucas pessoas têm hoje ideia da importância, na história da televisão brasileira, de Homero Icaza Sánchez (com acento agudo no a), que morreu no último dia 30. Mas ela foi fundamental, transformadora.

Panamenho de nascimento, poeta, Homero tornou-se amigo de Manuel Bandeira, que chegou a traduzir alguns de seus poemas. Antológicos, como os do livro Las Arras del Amor, que ele mesmo conhecia desde 1966, mas só foram publicados na década de 80 em edição restrita de 210 exemplares, ilustrados por serigrafias de Carlos Scliar. São 15 sonetos impecáveis, em que o último verso do primeiro ("en este corazón desamparado") passa a ser o primeiro verso do seguinte - e assim em todos os poemas, até que o 15.º é feito dos primeiros versos dos 14 anteriores.

Homero tinha muitas aptidões. Foi dos primeiros a construir modelos para pesquisas de opinião pública. E essa capacidade acabou levando-o em 1973 para a ainda incipiente TV Globo. Homero tornou-se diretor de pesquisa e fez uma revolução. Naquele tempo, as novelas tinham em grande parte temas estranhos à realidade brasileira (O Sheik de Agadir, por exemplo). Com suas pesquisas, Homero mostrou que temas próximos da nossa realidade seriam bem aceitos pelo público - até desejados. E ocorreu a inflexão. Mas a principal inovação estava nas pesquisas que não se limitavam a perguntar se o espectador estava gostando ou não da novela - e sim em pesquisas específicas sobre cada personagem e as relações do espectador com ela. De tudo tomavam conhecimento os autores.

No primeiro contato profissional de Homero com o autor destas linhas (que passou em 1975 a ser editor-chefe do Globo Repórter), uma lição inesquecível: "Você não pode esquecer que, na televisão, fala com todos os públicos ao mesmo tempo - doutor e analfabeto, velho e criança, rico e pobre, homem e mulher, morador da cidade ou do campo, do sul ou do norte. E tem de ser entendido por todos, ser interessante para todos - sem ser chato, banal. Porque, se a pessoa não entender algo do seu texto e deixar de prestar atenção para perguntar a alguém "o que é que ele disse?", já terá perdido a sequência e poderá mudar de canal". E perder audiência na TV era e é pecado mortal. Continua