sábado, 8 de outubro de 2011

Um homem paradoxal

Via blog do Noblat
07.10.2011

Zen e agressivo, amoroso e infrator, simples e extravagante

Pedro Dória, O Globo

Steven Paul Jobs era um homem pacato. Budista, seguia desde muito jovem a linha zen. Era também um homem agressivo, capaz de demissões sumárias por motivos fúteis. Fez muita gente chorar por broncas duras. Foi um pai amoroso quase toda a vida mas se recusou a reconhecer a primeira filha em seus primeiros anos. Foi um homem ímpar, paradoxal, que marcou profundamente o mundo.

Foi na pequena Palo Alto, Norte da Califórnia, que ele morou na última década e meia. É uma cidade de milionários onde vivem os fundadores de Google, Facebook e tantas outras empresas de alta tecnologia.

Mas a casa de Jobs não parece com a de um milionário. Exposta à beira da rua, com um murinho baixo de tijolos vermelhos, janelas redondas, só parcialmente escondida por um jardim meio selvagem, onde plantou árvores, arbustos, cenouras e ervas para chá. Era vegetariano mas comia peixe cru.

Jobs sempre passeou muito por Palo Alto ou nas colinas do campus de Stanford, a poucas quadras de sua casa. Pensava caminhando, às vezes sozinho, outras com quem o visitava.

Quando jovem, gostava de ternos caros. No fim, adotou o jeans velho e rasgado, sempre Levi's 501, e camisa preta com gola alta, tênis. Quando, no verão, o calor passava dos 40C, bermudas.

Conhecia os vizinhos pelo nome e os cumprimentava, seus filhos estudam na escola pública a poucas quadras dali. Jobs não perdia as reuniões de pais e mestres. Ia também a pé fazer compras no supermercado Whole Foods, de comida orgânica. Pacato.

Quando jovem e solteiro, viveu numa mansão na vizinha Woodside. Quem o visitou na época dizia que só tinha um móvel: a cama. Nas paredes, fotografias do americano Ansel Adams. No meio da sala, mantinha uma motocicleta BMW, um piano Bosendorfer, um abajur Tiffany's e um aparelho de som Bang & Olufsen.

Os objetos não o atraíam pela utilidade e sim pela elegância do desenho. Era muito rígido com esta busca por elegância e equilíbrio nos objetos. Foi esta busca que quase o desviou de fundar a Apple. Quis, antes, ser monge Zen. Foi dissuadido pelo sensei de toda sua vida, o japonês Kobun Chino.

Criou a Apple e criou produtos seguindo os preceitos rigorosos da arte Zen. Continua

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