quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Como acabar com a fome no mundo? Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

JC e-mail 4427, de 31 de Janeiro de 2012.
Como acabar com a fome no mundo? Artigo de José Eustáquio Diniz Alves


José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). Artigo enviado para o JC Email pelo autor.

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), existiam 925 milhões de pessoas com fome ou em situação de insegurança alimentar no mundo em 2010, o que correspondia a 13% da população mundial. A escassez de alimentos e a desnutrição acontece no meio da abundância de bens e serviços na economia internacional. A humanidade já possui todas as armas para vencer a fome e já existem diversas soluções pensadas, mas falta colocar em prática.

Vejamos algumas alternativas para acabar com a fome no mundo. Uma primeira alternativa seria a eliminação ou, pelo menos, a redução dos gastos militares no mundo que estão na ordem de US$ 1,6 trilhão de dólares ao ano. Este dinheiro seria suficiente não só para acabar com a fome como para reconstruir áreas cultiváveis degradadas.

Existem alguns milhões de homens e milhares de mulheres que passam a vida ativa na caserna fazendo trabalhos inúteis ou preparando guerras e ações militares que provocam mortes e danificam o meio ambiente. Se os recursos financeiros e humanos usados em gastos militares forem redirecionados para atividades produtivas a fome poderia ser eliminada, a educação e a saúde poderiam avançar. Além de tudo, o movimento pacifista mundial agradeceria.

Uma segunda alternativa seria utilizar apenas fontes vegetais de nutrientes na alimentação. Os vegetais são seres vivos que produzem a sua própria alimentação (por meio da fotossíntese) e não possuem as capacidades de senciência dos animais. Os vegetais são capazes de fornecer tudo o que o organismo humano precisa para se nutrir: proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e sais minerais. Portanto, deixar de comer peixes, carnes e derivados não só salvaria a vida de bilhões de seres sencientes que sofrem - na vida e na morte quando vão para os abatedouros - como abriria a possibilidade de transformar as áreas de pastagens, de confinamento de animais e de produção de ração para o gado em áreas de plantação de alimentos saudáveis, orgânicos e nutritivos. Seria uma também alternativa para a evitar a degradação ambiental dos solos e da água e para a redução do aquecimento global (o metano é um dos principais gases de efeito estufa). Além disso, seria uma alternativa adequada à filosofia do vegetarianismo e do veganismo, além de viabilizar o fim da "escravidão animal".

Uma terceira alternativa seria eliminar o consumo e a produção de drogas e de bebidas alcoólicas, os jogos de azar, os cassinos e os jogos que utilizam animais como touradas, rodeios, corridas de cavalos, cachorros e camelos, brigas de galos etc. Estas atividades são prejudiciais para a saúde dos humanos e dos não-humanos e envolvem uma indústria - legal ou ilegal - de trilhões de dólares. O fim destas atividades seria suficiente para acabar com a fome e a pobreza extrema no mundo, evitaria muitas mortes por overdose, cirrose e acidentes de trânsito, além de liberar recursos para investimentos na educação, saúde, ciência e tecnologia, recuperação de florestas e ambientes degradados. CONTINUA