quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ONDE ESTÃO OS BONS ARES?, por Lucia Maria Paleari

Publicado no Diário da Serra/
Botucatu - São Paulo - Brasil
11.02.2012


Botucatu foi uma das quatro cidades do Estado de São Paulo que, em meados do século passado, recebeu um hospital destinado ao tratamento de tuberculosos devido às condições climáticas especiais de temperaturas amenas, altitude de aproximadamente 900 m, e bons ares. Esta característica rendeu-lhe o slogan de Terra dos Bons Ares, que todo botucatuense sempre repetiu com orgulho e que todo morador vindo de outros cantos referendava com prazer.

Hoje, fevereiro de 2012, início do século XXI, escrevo com profunda saudade do tempo em que eu podia estudar, trabalhar, residir e andar por todos os lados da cidade respirando ar limpo, leve, inodoro e deveras agradável, fresco nas madrugadas e de tépido a quente durante os dias ensolarados. Sinto saudade, porque faz mais de um ano que a toxicidez de poluentes lançados ao ar indiscriminadamente, tem provocado grande desconforto em mim e em inúmeras pessoas, devido a náuseas, dores de cabeça, ardência na mucosa nasal e olhos. Uma parcela da população sofre com o odor fétido desses poluentes, outra parcela, no entanto, incapaz de detectá-lo, continua vivendo como se nada estivesse acontecendo.

A situação na cidade é séria, é grave e ficou insuportável a partir do segundo semestre de 2011. No entanto, até agora, nada foi resolvido, apesar das reclamações feitas junto aos órgãos competentes, responsáveis por zelar pelo bem-estar da população.

É imperativo que se identifique a fonte desses poluentes e se façam cumprir todas as normas de segurança, com uso de filtros adequados que impeçam a difusão dos gases tóxicos que estão transformando Botucatu, a Terra dos Bons Ares, em local destituído de condição adequada ao bem viver.

A que males, a que doenças, estamos sujeitos a médio e longo prazos devido a esses poluentes que, cotidianamente, durante os dias e madrugadas, são lançados na atmosfera? Quantas dores de cabeça inexplicáveis podem ter origem nesses poluentes?

Não basta que indústrias se instalem nas cidades, muitas vezes em grandes complexos, e se repitam os famosos e demagogos chavões de que representam empregos e, consequentemente, condições de consumo à população. É preciso que as indústrias, cônscias de suas responsabilidades, propiciem também, além de empregos, além de condições de consumo à população, condições para que seus empregados e demais munícipes vivam sem desconforto e sem ter suas vidas abreviadas por causa de venenos químicos que, imiscuídos no ar, invadem o nosso corpo e nos molestam, nos causam doenças. É preciso que as empresas poluentes respeitem a legislação vigente. Caso isto não aconteça, que o poder público atue, firme e prontamente, aplicando as multas previstas em lei, obrigando-as a adequarem-se às normas. Só assim será possível desfrutar de ambiente saudável. Só assim os moradores da cidade de Botucatu, eleitores e pagadores de impostos, não sofrerão desnecessariamente e não adoecerão.

Emprego sem saúde, num momento em que a população mundial se conscientiza da importância vital de se cuidar do ambiente para proteger este planeta tão desrespeitado, tão arrogantemente vilipendiado, é algo impensável, inadmissível. É como dar com uma mão e retirar com a outra, sendo que neste caso nos é retirado, nos é roubado o nosso bem maior: a vida!


Lucia Maria Paleari
Bióloga, Doutora em Ecologia
Docente da UNESP – Instituto de Biociências de Botucatu
Departamento de Educação