Por PAULO HEBMÜLLER
18.01.2012
CULTURA
Lemos romances porque temos a sensação de que falta algo em nossa vida e porque queremos nos sentir em casa na Terra, diz em conferência em São Paulo o escritor turco Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura
PAULO HEBMÜLLER
A primeira edição paulista do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento – realizado desde 2007 em Porto Alegre e que estreou em São Paulo no ano passado – foi encerrada no dia 6 de dezembro com a palestra do escritor turco Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura de 2006. O Nobel, aliás, motivou uma das respostas mais bem-humoradas do escritor no debate que se seguiu à conferência. O jornalista Mario Vitor Santos, ex-ombudsman da Folha de S. Paulo e diretor da Casa do Saber, uma das apoiadoras do projeto, perguntou se não haveria um lado ruim ao ganhar o prêmio – pelo risco do que qualificou como “o nome do escritor ficar tão grande a ponto de obstaculizar ou obscurecer o que ele gostaria de falar”. Pamuk respondeu: “A única coisa ruim do Nobel é que todos me perguntam o que há de ruim no Nobel. Nunca vi nada de mau no meu prêmio, nem no de ninguém mais. O Nobel é um bom prêmio e eu o recomendo a todos.” Seguiram-se muitas risadas e aplausos do público (leia mais sobre o debate no quadro).
Pamuk baseou a conferência nas reflexões de seu recém-lançado O romancista ingênuo e o sentimental (publicado pela Companhia das Letras, sua editora no Brasil desde 2004). No livro, diz, “coloquei toda a minha experiência sobre ler e escrever romances e discuto como os romances operam e produzem efeitos em nós”. Antes de entrar propriamente no assunto, o escritor fez questão de salientar que viu as diferenças que o crescimento e o sucesso econômicos do Brasil provocaram nos últimos anos – ele esteve no País em 2006 –, e que a Turquia experimenta um momento semelhante.
“Se todos estão se beneficiando igualmente desse crescimento é outra questão”, adverte. “Mas essa mudança econômica também significa uma mudança em nossa vida, agora que as vozes da Turquia, do Brasil, do México, da Índia, da China e de outros países serão ouvidas mais fortemente e profundamente no futuro.” Para o escritor, é preciso parar de se referir a esses países como “mercados emergentes”, porque se trata em realidade de “humanidade emergente”. CONTINUA