domingo, 26 de janeiro de 2014
‘A obesidade e a fome são os dois lados de um sistema alimentar que não funciona’, entrevista com Esther Vivas
Via EcoDebate
17.01.2014
Entrevista com Esther Vivas , ativista social e pesquisadora de políticas agrárias e alimentares.
Qual é o estado do atual modelo de produção, distribuição e consumo de alimentos?
Atualmente, enquanto milhões de pessoas no mundo não têm o que comer, outros comem muito e mal. A obesidade e a fome são os dois lados da mesma moeda: a de um sistema alimentar que não funciona e que condena milhões de pessoas à má nutrição. Vivemos, definitivamente, em um mundo de obesos e famélicos. Os números deixam isso claro: 870 milhões de pessoas no mundo passam fome, enquanto 500 milhões têm problemas de obesidade, segundo indica o relatório O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação 2013, publicado recentemente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), e que este ano analisa a mácula da má nutrição. Uma problemática que não afeta apenas os países do Sul, mas que aqui está cada vez mais próxima.
A fome severa e a obesidade são apenas a ponta do iceberg. Como acrescenta a FAO, dois milhões de pessoas no mundo sofrem deficiências de micronutrientes (ferro, vitamina A, iodo…), 26% das crianças têm, em consequência, atraso no crescimento e 1,4 bilhão vivem com sobrepeso. O problema da alimentação não consiste apenas em se podemos comer ou não, mas no que ingerimos, de que qualidade, procedência, como foi elaborada. Não se trata apenas de comer, mas de comer bem.
E quem sai ganhando com este modelo?
A indústria agroalimentar e a grande distribuição, os supermercados, são os principais beneficiários. Alimentos quilométricos (que vêm da outra ponta do mundo), cultivados com altas doses de pesticidas e fitossanitários, em condições precárias de trabalho, prescindindo do campesinato, com pouco valor nutritivo… são alguns dos elementos que o caracterizam. Em suma, um sistema que antepõe os interesses particulares do agrobusiness às necessidades alimentares das pessoas.
Como afirma Raj Patel em seu livro Obesos e famélicos (Los Libros de Lince, 2008): “A fome e o sobrepeso globais são sintomas de um mesmo problema. (…) Os obesos e os famélicos estão vinculados entre si pelas cadeias de produção que levam os alimentos do campo à nossa mesa”. E acrescento: para comer bem, para que todos possam comer bem, é preciso romper com o monopólio destas multinacionais na produção, distribuição e consumo de alimentos. Para que acima do afã do lucro, prevaleça o direito à alimentação das pessoas.
CONTINUA!
17.01.2014
Entrevista com Esther Vivas , ativista social e pesquisadora de políticas agrárias e alimentares.
Qual é o estado do atual modelo de produção, distribuição e consumo de alimentos?
Atualmente, enquanto milhões de pessoas no mundo não têm o que comer, outros comem muito e mal. A obesidade e a fome são os dois lados da mesma moeda: a de um sistema alimentar que não funciona e que condena milhões de pessoas à má nutrição. Vivemos, definitivamente, em um mundo de obesos e famélicos. Os números deixam isso claro: 870 milhões de pessoas no mundo passam fome, enquanto 500 milhões têm problemas de obesidade, segundo indica o relatório O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação 2013, publicado recentemente pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), e que este ano analisa a mácula da má nutrição. Uma problemática que não afeta apenas os países do Sul, mas que aqui está cada vez mais próxima.
A fome severa e a obesidade são apenas a ponta do iceberg. Como acrescenta a FAO, dois milhões de pessoas no mundo sofrem deficiências de micronutrientes (ferro, vitamina A, iodo…), 26% das crianças têm, em consequência, atraso no crescimento e 1,4 bilhão vivem com sobrepeso. O problema da alimentação não consiste apenas em se podemos comer ou não, mas no que ingerimos, de que qualidade, procedência, como foi elaborada. Não se trata apenas de comer, mas de comer bem.
E quem sai ganhando com este modelo?
A indústria agroalimentar e a grande distribuição, os supermercados, são os principais beneficiários. Alimentos quilométricos (que vêm da outra ponta do mundo), cultivados com altas doses de pesticidas e fitossanitários, em condições precárias de trabalho, prescindindo do campesinato, com pouco valor nutritivo… são alguns dos elementos que o caracterizam. Em suma, um sistema que antepõe os interesses particulares do agrobusiness às necessidades alimentares das pessoas.
Como afirma Raj Patel em seu livro Obesos e famélicos (Los Libros de Lince, 2008): “A fome e o sobrepeso globais são sintomas de um mesmo problema. (…) Os obesos e os famélicos estão vinculados entre si pelas cadeias de produção que levam os alimentos do campo à nossa mesa”. E acrescento: para comer bem, para que todos possam comer bem, é preciso romper com o monopólio destas multinacionais na produção, distribuição e consumo de alimentos. Para que acima do afã do lucro, prevaleça o direito à alimentação das pessoas.
CONTINUA!