quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Extremos de frio e calor podem estar indicado o novo normal com a mudança climática
Por Sergio Abranches

Via Ecopolítica
Por Sergio Abranches
07.01.2014


Tremenda onda de frio produz situações dramáticas e letais nos Estados Unidos e no Canadá. Brutal onda de calor que eleva os termômetros no Rio de Janeiro para além dos clássicos 40 graus Celsius e na Austrália para a fronteira dos 50 graus Celsius. A sensação térmica no Rio anda batendo os 51 graus Celsius. São temperaturas mortais. O frio pode provocar queimadas severas na pele e hipotermia, muito rapidamente. O calor pode também causar queimaduras sérias e morte por desidratação e agravamento de cardiopatias. Riscos de extremos de temperatura que ameaçam principalmente pobres desabrigados, crianças e idosos. Esses extremos juntos são uma espécie de amostra do tipo de cenário “moderado” que os cientistas prevêem para o futuro, se não conseguirmos estancar as emissões de gases estufa e, posteriormente, reduzir reduzir sua concentração na atmosfera. 
Esse frio intenso no Hemisfério Norte tem explicação clara. Os cientistas sabem o que está acontecendo. Onde não há consenso é no que eles chamam de “questão da atribuição”. Em palavras simples, se é possível ou não atribuir esse cenário caótico ao aquecimento global e à mudança climática. Hoje, diferentemente do passado recente, cientistas experientes e reconhecidos,  já dizem em público que os padrões alterados de tempo que têm se repetido nos últimos anos podem e devem ser atribuídos à mudança climática causada pela concentração de gases estufa que já está em curso. A redução do gelo no Pólo Norte causa aquecimento do Oceano Ártico no Hemisfério Norte e a difusão do calor latente pela atmosfera ártica. Esse aquecimento enfraquece os corredores de vento polar, o “jestream”, que passa a ter um padrão de circulação serpenteante, em velocidades mais baixas em algumas áreas e mais abrangente. Quando isso acontece o tempo fica caótico em boa parte dos Estados Unidos e em alguns pontos da Europa, como o Reino Unido. Afeta o padrão de tempestades de neve e chuva, de furacões e secas no Hemisfério Norte.
O Oceano Árctico está aquecendo em velocidade muito superior à de outras áreas. Neste período, a temperatura média ficou -17 grau Celsius,. O aquecimento e a perda de gelo polar mudam dramaticamente a atmosfera superior. A forte corrente de ar polar na atmosfera superior, em situações antes normais de temperaturas mais baixas, ficava “fechada” em torno do Pólo Norte. Mas, sobrecarregada de calor do Oceano Ártico, ela se “solta” e avança na direção sul, adotando uma trajetória sinuosa e provocando situações climáticas extremas.
Os cientistas mais convictos, como Michael Mann, autor do célebre gráfico conhecido como “taco de hóquei”, não têm mais problema em dizer que os extremos que temos experimentado nos últimos anos são parte do processo de mudança climática provocado pelas emissões humanas. Um processo já em curso. O aquecimento dos pólos tem sido apontado pela quase unanimidade (com as exceções pouco respeitáveis – a maioria – e alguns – muito poucos – sérios que ainda não se convenceram. Todos os sérios apontam a margem ainda significativa de indeterminação, que dificulta atribuir à mudança climática determinados fenômenos específicos. Mas isso nem toca na validade da hipótese de mudança climática por causas humanas em curso e com trajetória de alto risco. 

CONTINUA!