Via blog do Noblat
Por Maria Helena RR de Sousa
06.01.2013
Somos, continuamos a ser, uma belíssima viola. Ô cidade linda! De embasbacar, literalmente. Como dizia um grande amigo de Eixo, Aveiro: “O Rio é um espalhafato!”.
Mas, por dentro, o pão está cada vez mais bolorento.
E por culpa de quem? Em partes iguais, da população e das autoridades municipais, estaduais, federais.
Nós, os cariocas, rebeldes e no mais das vezes mal educados, além de não obedecer as posturas que transformam um amontoado de gente numa cidade boa para viver, ainda cultivamos o jeitinho. Para qualquer infração, um “jeitinho”...
Votamos mal. Dificilmente você encontra um carioca que saiba dizer por que votou em Y para vereador, isso quando lembra em quem votou. Não é muito diferente do que acontece com o deputado estadual ou até com o federal. As exceções são raras e só confirmam a regra.
E os senadores? Uma vez eleitos, o cargo torna-se vitalício. E será que algum eleitor sabe dizer o que de bom seu senador fez pelo Estado do Rio?
Eleição, para nós, é a do Poder Executivo. Essa mexe com nosso coração. Mas que ninguém pense que isso tem a ver com a plataforma dos candidatos... Não. O objetivo, acredite se quiser, é “ganhar” o Poder: “Ganhei! Meu candidato venceu!”.
Dinheiro não é problema. Acho até que sobra para gastos extravagantes. No tempo em que não havia shoppings, décadas de 60, 70, íamos da General Osório ao Jardim de Alá numa boa. Mas agora que viramos uns rastaqueras, vamos ter três estações de metrô para nos levar de uma ponta a outra de Ipanema. E depois, para não dar complexo em ninguém, do Jardim de Alá à Antero de Quental, no Leblon.
Já para a Baixada Fluminense, onde vivem mais de três milhões de pessoas, que em sua maioria na capital trabalham e ganham a vida, o metrô é um sonho longínquo.
O Rio se transformou no cenário de grandes festas. E recebe todo mundo muito bem. Reclamam das filas? Da falta de táxis? Só podem ser ou marinheiros de primeira viagem ou rabugentos. Queria ver encontrarem um táxi em Paris no dia 31 de dezembro ou rodarem na London Eye sem enfrentar uma baita fila. Mas falta o principal que sobra nas cidades civilizadas: transporte público de qualidade.
Falta também ao Rio a constância no cuidado com a cidade. Enguiços, acidentes, a natureza inclemente, isso acontece no mundo todo. Faz parte da vida. O que não faz parte é o descuido e a falta de constância no cuidado.
Exemplos: o trenzinho do Corcovado enguiçou. Podia acontecer em qualquer lugar. O que certamente só aconteceria em cidades longe da civilização foi o que sucedeu em seguida. Os passageiros presos no vagão, sem atenção do poder público. Que só veio duas horas depois e sem um mínimo de organização: as pessoas caminharam de uma composição para a outra a pé pelos trilhos, no breu da floresta, tendo como orientação a luz do celular do guia que as conduzia!
Isso é o que não podia ter acontecido. Nunca.
Outra: batedores de carteira e turistas embevecidos com a festa deixaram nas areias e nas ruas de Copacabana dezenas de documentos. Os garis, como sempre cuidadosos, fizeram seu serviço. Entregaram as carteiras e cartões na delegacia do bairro que deixou os documentos jogados no chão à espera que os donos fossem lá procurá-los!
Dona Dilma andou falando em 'guerra psicológica'. Acho que sou vítima de uma das batalhas: olho para o céu de hora em hora com pavor da tempestade que esse calor infernal anuncia. Em qualquer país, chuvas torrenciais causam danos e perdas. A diferença é que aqui os mesmos danos e perdas levam mais de ano – e estou sendo generosa... – para serem sanados.
Não é, repito, por falta de dinheiro. Acabo de ler na VEJA quanto custou o porto de Mariel, em Cuba, pago por nós: 682 milhões de dólares, emprestados pelo BNDES.
Será por que então? O cubano é mais saleroso? É isso?
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Ela também tem uma fanpage e um blog – Maria Helena RR de Sousa.