quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poluição em Nova Délhi já é a maior do mundo


JC e-mail 4883, de 29 de janeiro de 2014
Poluição em Nova Délhi já é a maior do mundo


Medida de material particulado fino prejudicial à saúde na cidade indiana foi maior que o dobro da média em Pequim. Partículas em suspensão com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro penetram profundamente nos pulmões


Em meados de janeiro a poluição do ar em Pequim, na China, era tão grande que o governo emitiu alertas de saúde e fechou as quatro maiores vias expressas, levando a população em pânico a comprar filtros de ar e vestir máscaras. Mas em Nova Délhi, na Índia, onde a poluição criou o que foi considerado por algumas medições o ar mais perigoso, havia poucos sinais de alarme.

Apesar da reputação generalizada de Pequim de ter o ar mais poluído que qualquer outra grande cidade do mundo, a medição diária em ambas as cidades sugere que o ar de Nova Délhi é mais carregado de pequenas partículas de poluição, e mais frequentemente, do que de Pequim.

A Embaixada dos Estados Unidos em Pequim enviou avisos em meados de janeiro, quando uma medida de material particulado fino prejudicial (poeira, fumaça e todo tipo de material suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho) conhecido como PM2.5 ficou acima de 500 nos trechos superiores da escala de medição, pela primeira vez este ano. Isto se refere a partículas em suspensão com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro que, acredita-se, representa o maior risco para a saúde, pois penetra profundamente nos pulmões.

Mas para as três primeiras semanas deste ano, a média de leitura de pico diário de partículas finas em Nova Délhi pelo Punjabi Bagh, um monitor cujas leituras são muitas vezes inferiores aos de outras cidades e monitores independentes, foi 473, mais que o dobro da média de 227 em Pequim. Na noite de 15 de janeiro, a poluição passou dos 500 em Pequim pela primeira vez. Em Nova Délhi, apenas uma vez em três semanas o valor de pico diário de partículas finas ficou abaixo de 300, um nível de mais de 12 vezes o limite de exposição recomendado pela Organização Mundial da Saúde.

- Isto sempre me confundiu, o fato de o foco ter sido sempre a China e não a Índia - disse Angel Hsu, diretor do programa de medição de performance ambiental no Centro de Direito e Política Ambiental de Yale. - A China se deu conta de que não pode se esconder atrás de sua opacidade de costume, enquanto a Índia não recebe pressão para liberar dados melhores. Então, simplesmente não há bons dados públicos sobre a Índia, como há para a China.

Especialistas há muito tempo sabem que o ar da Índia está entre os piores do mundo. Uma análise recente feita pelos pesquisadores de Yale descobriu que sete dos dez países com a pior poluição do ar estavam no Sul da Ásia. E as evidências mostram que os indianos pagam um preço alto pela poluição. Um recente estudo mostrou que a população da Índia tem os pulmões mais fracos do mundo, com muito menos capacidade que os chineses, por exemplo. Os pesquisadores estão começando a suspeitar que a mistura incomum de ar poluído, condições sanitárias precárias e água contaminada faz da Índia o país com as condições mais perigosas para os pulmões.

A Índia tem o mais alto índice de mortalidade do mundo por causa de doenças crônicas respiratórias, e tem mais mortes por asma do que qualquer outra nação, de acordo com a OMS. Um estudo mostrou qye metade das visitas ao médico na Índia têm como motivo problemas respiratórios, diz Sundeep Salvi, diretor da Fundação de Pesquisas Chest, em Pune.

Clean Air Ásia, um grupo de advocacia, descobriu que uma outra medida comum de poluição conhecida como PM10, para detecção de partículas menores de 10 micrômetros de diâmetro, foi de em média 117 em Pequim, em um período de seis meses em 2011. Em Nova Délhi , o Centro de Ciência e Meio Ambiente utilizou dados do governo e descobriu que uma medida média de PM10 em 2011 foi de 281, quase duas vezes e meia superior. A poluição por partículas finas tem sido fortemente associada com morte prematura, ataques cardíacos, derrames e insuficiência cardíaca. Em outubro, a OMS declarou que também causam câncer de pulmão.

(Sami Siva do New York Times/O Globo)