Por Maria Guimarães
Edição Impressa 125 - Julho 2006
Análise de unhas mostra como a alimentação pode variar
Quando você corta as unhas, nem imagina que está jogando fora um registro do que comeu há uns seis meses. E se tem cabelos compridos... cada fio conta os últimos anos da sua vida. Essa história pode ser desvendada com ajuda dos isótopos estáveis. É o que fazem pesquisadores como Gabriela Bielefeld Nardoto e Luiz Antonio Martinelli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba, que utilizam essa técnica para descrever aspectos diversos da vida das pessoas e outros seres vivos.
Os pesquisadores estavam curiosos em investigar como a “cultura de supermercado” alterou os hábitos alimentares de populações urbanas. Para isso, recolheram pedacinhos de unhas pelo mundo afora: Estados Unidos, Europa, Amazônia e Região Sudeste do Brasil. Os resultados estão em artigo que será publicado no American Journal of Physical Anthropology em setembro, mas já está disponível na edição eletrônica do periódico.
Sua expectativa era encontrar uma dieta homogênea entre áreas distantes, como resultado da globalização alimentar. Mas não é isso que se vê. As análises feitas pelo grupo de Piracicaba mostram que a partir da informação contida nos fragmentos de unhas é possível distinguir o que a pessoa andou comendo e onde: no Sudeste brasileiro, em pequenas comunidades amazônicas, nos Estados Unidos ou na Europa. Além disso, Gabriela se surpreendeu em encontrar diferenças marcantes dentro da região amazônica: “A população de Santarém já tem uma dieta completamente modificada em relação à região”. Os dados mostram que, com freqüência, os alimentos vendidos em Santarém são inclusive produzidos no Sudeste. Continua