Por Márcio Ferrari
Edição Impressa 184 - Junho 2011
© Wilson Pedrosa/ Agência Estado/ AE |
Descrever em detalhes essas novas configurações demográficas, suas implicações e desdobramentos é a tarefa que se atribui o Observatório das Migrações do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), financiado pela FAPESP e coordenado por Rosana Baeninger, professora do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), também da Unicamp. O projeto tem uma abrangência cronológica extensa – de 1880 a 2010 – e perspectiva interdisciplinar, o que faz com que novos estudos temáticos, que atualmente totalizam 16, surjam na medida em que as pesquisas avançam.
“Nosso objetivo é que cada pesquisador consiga desvendar processos que os grandes números não mostram”, diz Rosana. “Temos o desafio de procurar novas fontes de dados – os censos não nos fornecem informações sobre as migrações internas, por exemplo.” Os produtos finais deverão ser um atlas temático e um banco de dados. Não só novas fontes são utilizadas, mas também abordagens recentes da bibliografia nacional e estrangeira que ajudem a entender o quadro mais amplo. Um dos pontos de partida do observatório é que “o entendimento dos processos migratórios só ganha significado se considerarmos as dimensões espacial e territorial”.
Assim chegou-se à constatação de que no século XXI, como já se podia entrever desde os anos 1990, a Região Metropolitana de São Paulo inseriu-se na rota das migrações internacionais. “A metrópole tem uma característica muito mais voltada para o mercado internacional, como parte de uma cadeia de cidades globais”, diz Rosana. Nesse arco amplo, enquanto os processos econômicos se multiplicam espacialmente, o tempo se globaliza. É o que o sociólogo britânico Anthony Giddens chama de “mecanismos de desencaixe”. Continua