sexta-feira, 8 de julho de 2011

A metrópole móvel

Via Pesquisa FAPESP Online
Por Márcio Ferrari
Edição Impressa 184 - Junho 2011


© Wilson Pedrosa/ Agência Estado/ AE

Perfil migratório de São Paulo é marcado por idas e vindas e pela internacionalização

Já é fato razoavelmente conhecido que a Região Metropolitana de São Paulo não é mais um grande polo de absorção de migrantes internos e externos, papel que desempenhou durante a maior parte do século XX. Na primeira década do XXI houve um expressivo saldo negativo entre os que entraram e os que saíram. Chegaram 100 mil pessoas e partiram 800 mil somente para o interior do estado. O que não é tão conhecido é o novo perfil migratório que esses números, de certa forma, escondem. O fluxo já não se explica pela dinâmica da indústria e do emprego formal que antes atraía novos moradores. A grande novidade é o fenômeno da reversibilidade – ou seja, as permanências tendem a encurtar-se e o movimento se caracteriza por idas e vindas, além dos retornos definitivos.

Descrever em detalhes essas novas configurações demográficas, suas implicações e desdobramentos é a tarefa que se atribui o Observatório das Migrações do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), financiado pela FAPESP e coordenado por Rosana Baeninger, professora do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), também da Unicamp. O projeto tem uma abrangência cronológica extensa – de 1880 a 2010 – e perspectiva interdisciplinar, o que faz com que novos estudos temáticos, que atualmente totalizam 16, surjam na medida em que as pesquisas avançam.

“Nosso objetivo é que cada pesquisador consiga desvendar processos que os grandes números não mostram”, diz Rosana. “Temos o desafio de procurar novas fontes de dados – os censos não nos fornecem informações sobre as migrações internas, por exemplo.” Os produtos finais deverão ser um atlas temático e um banco de dados. Não só novas fontes são utilizadas, mas também abordagens recentes da bibliografia nacional e estrangeira que ajudem a entender o quadro mais amplo. Um dos pontos de partida do observatório é que “o entendimento dos processos migratórios só ganha significado se considerarmos as dimensões espacial e territorial”.

Assim chegou-se à constatação de que no século XXI, como já se podia entrever desde os anos 1990, a Região Metropolitana de São Paulo inseriu-se na rota das migrações internacionais. “A metrópole tem uma característica muito mais voltada para o mercado internacional, como parte de uma cadeia de cidades globais”, diz Rosana. Nesse arco amplo, enquanto os processos econômicos se multiplicam espacialmente, o tempo se globaliza. É o que o sociólogo britânico Anthony Giddens chama de “mecanismos de desencaixe”. Continua