terça-feira, 12 de julho de 2011

Narrativas infantis atestam teorias recentes da neurociência

Via Agência USP de Notícias
Por Antonio Carlos Quinto - acquinto@usp.br
11.07.2011

Ao visualizar uma sequência de imagens e, posteriormente, elaborar uma história sobre o que viu, a criança envolve todas as suas memórias, tanto a de longo quanto de curto prazo. De acordo com a pesquisadora Priscila Peixinho Fiorindo, uma constatação que pode parecer “simples”, na verdade vem comprovar algumas recentes teorias no campo da neurociência. “Muitos cientistas ainda consideram que o cérebro possui uma concepção geográfica, ou seja, que seria como um sistema com campos específicos para determinadas funções. Nosso estudo vem de encontro às teorias do médico Miguel Nicolelis”, conta Priscila. Segundo o neurocientista brasileiro, essa divisão não tem sentido. “Ele defende que o órgão é uma ‘grande democracia’ e suas funções são determinadas pelas tarefas que se impõem ao cérebro”, ressalta.
Em sua pesquisa realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Priscila avaliou que a produção narrativa de crianças envolveu, simultaneamente, as memórias de curto e longo prazo. Formada em Letras, com mestrado em Linguística, Priscila foi orientada em sua pesquisa de doutorado pela professora Lélia Erbolato Melo. No estudo O papel da memória construtiva na produção de narrativa oral infantil a partir da leitura de imagens em sequência, a pesquisadora constatou que as crianças com idade de 5, 8 e 10 anos, utilizam os mecanismos de funcionamento do cérebro que envolvem as memórias de curto e longo prazo. “As memórias de curto prazo são as que se referem às informações recentes”, descreve Priscila. Em relação à memória de longo prazo, ela explica que é dividida entre a semântica, que reflete o conhecimento de mundo acumulado, e a episódica, que envolve as situações ou episódios já ocorridos. “É na memória espisódica que se encontram os ‘scripts’. Quando, por exemplo, encontramos uma pessoa que não vemos há muito tempo e que, de alguma forma nos marcou, acionamos, paralelamente, as memórias de curto e longo prazo, descreve. Assim, todas as lembranças/memórias são recuperadas e reelaboradas, por meio do script, na memória construtiva para que as crianças narrem uma história.” Continua