terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Após 6 anos da morte de Dorothy, tensão ronda assentamento, artigo de Felipe Milanez

Via EcoDebate
15.02.2011

Esperança
A lua cheia se recolheu atrás das nuvens, e algumas gotas anunciam a chuva iminente. “Mas não vai chover agora”, comenta João Araújo. “Só mais tarde, de madrugada.” Ele fala como quem conhece as intempéries da Amazônia.

O telhado de lona que protege algumas redes deve dar conta. João preferiu apenas palha de palmeira, num cantinho onde armou sua rede. Costume de dormir na mata, dos tempos em que trabalhou nos garimpos do Pará.

A floresta é alta, como se estivéssemos cercados de prédios, como uma silhueta da avenida Paulista numa noite de blackout.

Araújo, um solitário lavrador com marcas de uma vida dura nos sulcos do rosto, aproveita a calma da noite, junto de assentados amigos em meio ao bloqueio que fazem da estrada, para contar o drama que passa e falar das ameaças de morte que tem recebido de seu vizinho. Uma surpresa na trajetória de quem largou garimpos em busca da paz bucólica do campo.

“Queria um cantinho meu, sabe como é?” Mas deparou-se com a violenta disputa por madeira nobre na Amazônia. “Meu vizinho me disse: seu João, quero comprar uns pau aí do teu lote. Eu disse: ora, eu não vendo. E ele: então a gente vai pegar assim mesmo.”

O aperto que Araújo tem passado por negar-se a vender madeira, quando chega só em sua casa, como a vez em que seu vizinho o surpreendeu com uma espingarda e disse que daquela noite ele não passava, não é um drama exclusivamente dele. Mas uma situação de tensão um tanto corriqueira, ao longo dos últimos meses, para os assentados do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança.

Foi no Esperança, na vicinal 1, próximo ao lote 55, que no dia 12 de fevereiro de 2005, a irmã Dorothy Mae Stang foi assassinada com seis tiros. Há exatos seis anos. Hoje, tensão, ameaças e abandono do Estado continuam. O pistoleiro Rayfran das Neves Sales, conhecido como Fogoió, está preso. Assim como o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, um dos mandantes. Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, também acusado de ser mandante, está solto.

No último sábado, 12 de fevereiro, uma caravana reunindo movimentos sociais da região andou pela Transamazônica, seguiu por algumas ruas de Anapu até o Centro São Rafael, onde ela está enterrada. Pediam justiça, e que a situação de conflito presente no Esperança recebesse a atenção que merece do Estado.

Naquela noite de protesto, mestre João, como é conhecido, contou um pouco da sua vida e das ameaças que tem recebido. Pessoa anônima, ele não é um líder de destaque entre os assentados, como Fábio Lourenço de Sousa, ou o Padre Amaro, que chegaram a receber ameaças públicas recentemente. Mesmo assim, mestre João corre o risco de ver sua vida terminar em razão de uns “paus” que estão no seu lote. Continua