sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sobre salário mínimo, Cazuza e o general Figueiredo

Via blog do Josias de Souza
24.02.2011




Senador de primeiro mandato, Raldolfe Rodrigues (PSOL-AP), 38 anos, recorreu a Cazuza para resumir a sessão da noite passada, no Senado. “Eu vejo o futuro repetir o passado”, discursou Raldolfe, da tribuna. “Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para”.

A estrofe anterior da peça que Cazuza fez com Arnaldo Brandão incluía versos mais ásperos: “Tua piscina tá cheia de ratos. Tuas ideias não correspondem aos fatos”. Raldolfe, porém, preferiu pular esse pedaço da música. Ateve-se à referência temporal –o futuro ecoando o passado num museu de novidades.

A aprovação do salário mínimo de R$ 545, de fato, resultou num enredo em que se misturaram o déjà vu e o vice-versa. Para justificar o mínimo maior ou o menor, esgrimiram-se os mesmos velhos argumentos. Com uma diferença: inverteram-se os papéis.

Petistas e agregados argumentaram: um salário mínimo menos constrangedor desarrumaria as contas públicas, alimentaria a inflação, comprometeria a Previdência e provavelmente desmancharia o penteado de Dilma Rousseff.

Sob vaias de uma galeria ornada pela ausência da CUT, acusaram: quem prega um salário mínimo maior o faz por demagogia e oportunismo político. Sérios e sensatos são os que defendem o reajuste possível, mesmo reconhecendo que é pouco. Em 2012, será melhor.

Na trincheira oposta, a neoesquerda irresponsável: DEM e PSDB. Um agarrado ao mínimo de R$ 560. Outro, aferrado aos R$ 600. Raldolfe, adepto dos R$ 700, leu um discurso feito em 11 de maio de 2000, na Câmara. Corria o governo FHC. O ex-PT era vivo.

Discutia-se o reajuste do mínimo de então. O ex-petismo se batia por R$ 175. Raldonfe reavivou o discurso sem mencionar o nome do autor, hoje um senador pós-PT. É mentira dizer que a Previdência não suporta o aumento do mínimo, dizia o orador.

Se o governo baixasse a taxa de juros em 1% ou 2%, pagaria o mínimo maior, afirmava. Hoje, é José Agripino Maia (DEM-RN) quem entoa essa pregação: se o Copom deixar de aumentar os juros em 0,25 ponto percentual, o governo poupa R$ 4 bilhões, disse.

Com esse dinheiro, daria para cobrir o extra de R$ 15 embutido no mínimo de R$ 560. “O trabalhador merece decência”, arrematou Agripino, para entusiasmo das galerias. E Raldolfe: “Os que antes defendiam o contrário agora defendem o reajuste. Os que defendidam o reajuste hoje defendem o contrário”. O tempo não para. Continua