terça-feira, 8 de maio de 2012
Aliança das Américas contra o tabaco
JC e-mail 4491, de 07 de Maio de 2012.
Aliança das Américas contra o tabaco
Academias de Medicina do continente discutem estratégias.
Nos últimos dois dias do workshop regional "Non Communicable Disease", realizado na Academia Brasileira de Ciências (ABC), na última semana, foram debatidos a prevalência do câncer em diversos países e estratégias adotadas para diminuir os índices de mortalidade como campanhas contra o tabagismo. O presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), o cirurgião oncológico, Marcos Moraes, trouxe dados animadores da luta antitabagista no País. Em sua conferência, ressaltou o apoio da presidente Dilma Rousseff e da mídia contra a indústria do tabaco nesses últimos anos. "No início, a mídia era bastante reticente, mas um importante marco dessa luta foi a divulgação pela revista Veja, em 1996, da adição de produtos como amônia nos cigarros para aumentar a dependência dos fumantes.
Em seu relato histórico, Moraes ressaltou alguns dos importantes passos dessa batalha. Entre os quais, o trabalho profundo de educação nas escolas, desde 1980, para evitar que os jovens sejam presas da indústria tabagista. Este trabalho alcançou hoje a marca de 14 mil escolas em todo o País; cerca de 118 mil professores e mais de 2 milhões de alunos. Moraes ainda contou que em 2003, houve a implantação de um comitê nacional com 18 diferentes setores para traçar uma política restritiva ao tabaco. "O maior desafio ainda é a interferência da indústria tabagista na política nacional", disse. O problema é que o Brasil é o segundo maior produtor de tabaco e, em três estados do Sul do País, as plantações de tabaco ainda representam um importante item da agricultura nacional e de subsistência para muitas famílias.
Moraes ainda detalhou a proibição da propaganda nos meios de comunicação, em eventos esportivos e culturais. Também destacou a proibição do uso de termos light nos maços de cigarro e a inclusão de imagens chocantes assim como o telefone de um serviço para parar de fumar. E por último, contou sobre uma última conquista agora de 2012 que não permite mais a adição de sabores como menta nos cigarros. O presidente da ANM ainda explicou aos médicos das Américas o programa de ajuda a quem quer parar de fumar que inclui terapia e medicamentos. Com toda essa campanha, a prevalência de fumantes no País, apontou, é menor do que 15%, diferente de 1989 quando eram 37% os fumantes.
Pela América Central, o médico Joaquim Barnoya, da Guatemala, falou sobre a ausência de pesquisa nacional de prevalência do tabagismo. "Infelizmente, a falta desse dado não nós permite identificar qual é o exato número de fumantes, quantos éramos e qual o impacto das campanhas restritivas. Acreditamos que seja algo em torno de 25% entre os homens e só 3% entre as mulheres. Infelizmente, não há dados numéricos sobre ex-fumantes," afirmou Barnoya. Segundo ele, as políticas de controle do tabaco, implementadas pelo governo da Guatemala, nos últimos quatro anos, têm respeitado o tratado assinado que visa a redução de fumantes, mas infelizmente, só há uma emenda do governo que foi cumprida, a partir de 2009, que trata da proibição de fumar em ambientes fechados.
Barnoya explicou que a propaganda no país é regulamentada pela própria indústria tabagista. Não há propaganda nas televisões e nem nas rádios e outdoor, mas é muito popular nos pontos de venda. Curiosamente, a Guatemala é o único país do mundo que não há imposto para a comercialização do tabaco. O imposto que há é só sobre a venda. Os políticos consideraram que a bitributação seria inconstitucional.
Outro aspecto negativo é que não há um programa nacional para cessar o fumo. "Se você deseja parar de fumar na Guatemala, será preciso ir ao menos a quatro farmácias até encontrar a terapia adequada e, quando a encontrar, esta custará o dobro do que um maço de cigarro. Soma-se a isso que não há um programa público contra o tabaco e o Estado não disponibiliza nem ao menos um serviço do tipo "Disque pare de fumar".
No México, a situação é um pouco diversa. O médico Juan Verdejo explicou durante o evento que há 10 anos se reconheceu o dano do tabaco à saúde e, em virtude disso, se proibiu sua publicidade em todos os meios de comunicação de massa e, posteriormente, em eventos esportivos. "Muitos dos eventos esportivos eram financiados pela indústria tabagista. Há cinco anos, inicialmente, na Cidade do México, e depois em todo o país veio a proibição de se fumar em locais públicos fechados. Primeiro nos hospitais e escolas, depois nos locais de trabalho e agora é Lei e funciona, perfeitamente, em todo o país com sanções específicas", explicou. Com isso, o país conseguiu reduzir em 1,7% o número de fumantes nos últimos 10 anos. Hoje a taxa de tabagistas é de 22% da população. "Para nós, o ideal é alcançar uma sociedade livre sem tabaco nos próximos 10 anos."
Para isso, há no México uma comissão específica a "Comissão contra o Vício" que trata a questão em âmbito nacional. Os institutos nacionais de saúde como o Instituto de Doenças Respiratória têm programas públicos para apoio aos pacientes que queiram deixar de fumar. "O programa consiste principalmente de informação, terapia, medicamentos. Todos os programas são gratuitos".
A luta contra o tabaco em Cuba é antiga, contou o médico Jose Fernandez-Britto. Há mais de 30 anos, foi iniciada com campanhas contra o fumo nas escolas, nos hospitais e no aeroporto. Hoje, os cinco canais de televisão têm propaganda diária, esclarecendo a população que o fumo causa câncer de pulmão, infarto do miocárdio etc. assim como as emissoras de rádio e os jornais e revistas. O objetivo principal é atingir os jovens para que não comecem a fumar.
Dentre os cubanos, os índices são semelhantes a de outros países das Américas. Mais de 35% de respondentes de uma enquete nacional disseram que fumaram alguma vez na vida. Atualmente, 23,7% são fumantes, índice que apresentou uma queda significativa se for comparado a 1995 quando 36% da população cubana fumava.
A presidente da Academia de Medicina de Nova Iorque, Jo Ivey Boufford, também trouxe dados interessantes sobre as campanhas contra o tabagismo nos Estados Unidos. Ivey mostrou que a cada campanha, há uma queda expressiva no número de fumantes. Em 2002, quando houve o aumento nas taxas dos cigarros, a percentagem de fumantes era de 21,5% da população; em 2003, quando se proibiu fumar em locais fechados, caiu para 19,2%; em 2009, com o aumento da taxação federal sobre os maços, o número de fumantes decresceu para 14,0%, mostrando que a política contra o tabagismo é essencial.
(Ascom da ANM)