quinta-feira, 10 de maio de 2012

Governo quer regular saída de atletas menores de 18 anos do País

Via Estadão
Por Jamil Chade
10.05.2012

'Clubes europeus estão fazendo uma espécie de mineração no Brasil', diz Aldo Rebelo

ZURIQUE - O governo federal vai anunciar leis para frear a saída de menores do Brasil para os grandes clubes europeus ou de países árabes, como o Catar. Em entrevista ao Estado, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, revelou com exclusividade que a ideia será a de impor aos poderosos clubes europeus, agentes da Fifa ou empresários clandestinos que cumpram exigências para que a transferência seja autorizada ou para que abram escolinhas de recrutamento no País.

O governo promete anunciar critérios que vão tirar qualquer incentivo financeiro para quem levar o jogador antes que cumpra 18 anos. "Clubes europeus estão fazendo uma espécie de mineração no Brasil. O problema é que jogam cascalho fora e depois ficam apenas com os diamantes", acusou o ministro.

Rebelo comunicou sua iniciativa ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, em reunião privada nesta semana. Dados da própria Fifa indicam que mais de 100 garotos brasileiros foram exportados em 2011, legalmente. Mas a suspeita é de que isso seja apenas a ponta de um iceberg e que o exército de jovens em busca de sucesso e fortuna seja bem maior, conduzidos por agentes.

O Departamento Jurídico do Ministério já está conduzindo os estudos sobre esses critérios, que incluiriam exigências sociais, garantias para a família, de proteção ao garoto uma vez na Europa, de responsabilidade jurídica da parte do empresário e outros critérios que teriam de ser cumpridos e o compromisso de que os meninos não selecionados não sejam abandonados.

O protocolo será apresentado ao Ministério Público Federal, Conselho da Criança e Adolescência, CBF e Fifa para que possa entrar em vigor ainda neste ano.

Rebelo estima que existam dois modelos de exploração. O primeiro é o do empresário que faz promessas ao jovem e à família de que a ida do garoto para a Europa os tirará da pobreza. "Essa é o abuso mais rasteiro e é quase um contrabando e tráfico de crianças, exercido por pessoas nem sempre qualificadas e que trazem crianças sem dar garantias, sem segurança profissional, educacional e sem proteção social", alertou o ministro.

O segundo modelo de exploração "oficial" é o que envolve a abertura de escolinhas de futebol pelos grandes clubes europeus justamente em países mais pobres. "Há uma forma sofisticada que é um colonialismo, exercido por clubes ricos europeus, que abrem escolinhas no Brasil com custos quase zero, de uma camiseta e um tênis, fazem uma seleção e trazem apenas os garotos que podem se transformar em fortuna", acusou. "É como uma mineração, onde cascalho é jogado fora e trazem apenas o diamante", denunciou. Continua