terça-feira, 29 de maio de 2012
Brasileiros preferem publicar em revista tradicional às de livre acesso
JC e-mail 4506, de 28 de Maio de 2012.
Brasileiros preferem publicar em revista tradicional às de livre acesso
Uma iniciativa de cientistas do mundo todo está propondo uma revolução no mundo acadêmico. Chamada de Primavera da Academia, a campanha incentiva o boicote às editoras de periódicos científicos, que impõem aos interessados em seu conteúdo assinaturas que chegam a US$ 40 mil.
O movimento ganhou força com o apoio de universidades como Harvard, que publicou um comunicado, no dia 17 de abril, incentivando seus pesquisadores a disponibilizarem seus artigos gratuitamente em seu site. Contudo, hoje, apesar das cobranças, os cientistas brasileiros ainda priorizam as publicações tradicionais, publicando poucos artigos em revistas de livre acesso.
Os pesquisadores justificam a preferência. "É importante publicarmos em revistas tradicionais, pois elas têm uma notoriedade maior, e a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] está muito preocupada com o índice de impacto das publicações. Se o pesquisador não publica artigos em revistas com alto índice, ele não é considerado prestigiado na classificação do órgão, o que prejudica os alunos e o curso dele, pois cursos com classificação abaixo de 4 na avaliação fecham. Se eu tiver cinco artigos publicados na Nature, eu tenho portas abertas no mundo inteiro, o que não ocorre se publicar cinco trabalhos em revistas de livre acesso", explica o professor de bioquímica da Unicamp Anibal Vercesi.
O professor de física da USP-São Carlos Vanderlei Bagnato concorda: "Você tem que se preocupar em publicar em periódicos sérios e reconhecidos, porque, para nós, a credibilidade do trabalho vem com a publicação nessas revistas". Por outro lado, ele também destaca a importância da publicação de artigos nas revistas de livre acesso. "Todo mundo quer ler trabalhos relevantes. Por isso, as pessoas procuram acessar publicações de boa reputação, e pelas quais não precisam pagar. Por isso, o ideal seria a gente unir essas duas características em revistas de acesso livre, que também são mais vantajosas para quem publica nelas, já que podem ser lidas por mais pessoas", diz.
Para o professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Grupo de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Isaac Roitman, o quadro brasileiro da publicação de artigos científicos deve ser analisado historicamente. "Há 30, 40 anos, era muito mais difícil para o pesquisador do Brasil publicar os seus trabalhos em periódicos científicos, e poucas publicações brasileiras preenchiam os requisitos de qualidade exigidos. Além disso, o acesso às revistas estrangeiras era muito mais difícil e lento", analisa. Contudo, especialmente nos últimos 10 anos, a popularização da internet permitiu o maior acesso a publicações do mundo todo, que passaram a ter versões online. Continua