quinta-feira, 20 de março de 2014

Alta do turismo na Antártida preocupa ambientalistas


JC e-mail 4915, de 19 de março de 2014
Alta do turismo na Antártida preocupa ambientalistas


ONGs e autoridades ambientais pedem mais atenção ao impacto que os viajantes podem causar ao ecossistema



Em meio aos austeros uniformes de militares e cientistas, homens com chapéus à la Indiana Jones e mulheres com acessórios chamativos passeiam perto da base chilena Presidente Eduardo Frei Montalva, na Antártida. Os visitantes peculiares, porém, não causam estranhamento.

Embora a Antártida ainda seja um dos destinos mais exclusivos do mundo, o turismo no local está cada vez mais consolidado. Após um declínio nos últimos cinco anos, motivado principalmente pela crise econômica, as atividades turísticas no continente voltaram a florescer.

Estimativas da Associação Internacional de Operadores de Turismo na Antártida mostram que, no verão passado, foram quase 35 mil visitantes. Na temporada 2013-2014, que acaba neste mês, deve haver leve alta.

A maioria dos visitantes, que pagam entre US$ 3 mil e US$ 30 mil pela viagem, vem dos EUA, do Canadá e da Europa. As empresas oferecem desde observação de animais a caminhadas nas ilhas. Muitas bases militares, como as da Argentina e do Chile, têm serviço de visitação.

ALERTA AMBIENTAL
Toda essa gente circulando em um dos ecossistemas mais preservados do planeta anda preocupando cientistas. ONGs, como o Greenpeace, e autoridades ambientais nacionais já se manifestaram pedindo atenção.

O tratado antártico não fala diretamente do turismo, mas há orientações gerais para a atividade. Como os países signatários são responsáveis pelos danos causados por veículos privados que tenham sua bandeira, muitos. como Chile e França, têm regras e fiscalização rígida.

"O turismo é fundamental na divulgação da Antártida, mas somos rigorosos quanto aos seus limites" diz HérctorBaez, chefe da base argentina Camara, que recebe entre 60 e 130 turistas por dia.

No passado, as grandes embarcações que levavam milhares de turistas --e de litros óleo combustível-- eram as vilãs devido ao risco de contaminação das águas. Mas, desde 2011, há um limite sobre a circulação de embarcações com grandes quantidades de óleo na região.

Hoje, o que preocupa os especialistas são pequenas embarcações e aeronaves "avulsas" oferecendo passeios e até interação com animais.

Em uma busca pelo termo #Antarctica na rede social Instagram é possível ver viajantes em condutas que não são permitidas, como tocar nos pinguins. Há também turistas nadando de biquíni no mar antártico --embora nadar na Antártida não seja proibido, fazer isso sem as roupas adequadas não é recomendado porque pode ter consequências graves.

A Estação Antártica Comandante Ferraz não oferece um serviço de visitação turística, mas a base brasileira fica próxima ao "esqueleto da baleia", uma espécie de escultura montada por Jacques Cousteau há mais de 40 anos que atrai muitos visitantes.

Jair Putzke, professor da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul) e veterano na Antártida, faz, junto com outros cientistas, uma análise no entorno do esqueleto de Cousteau. Em suas análises dos musgos antárticos, eles verificam, entre outras coisas, eventuais impactos da visitação na região.

"Os humanos também fazem parte do ecossistema e não podem ser excluídos, mas é preciso atenção à maneira como isso é feito", diz.

(Giuliana Miranda/Folha)