quinta-feira, 27 de março de 2014

Para OMS, governos não acham que poluição é 'um problema básico'


JC e-mail 4920, de 26 de março de 2014
Para OMS, governos não acham que poluição é 'um problema básico'


Medidas como rodízio de carros e uso de máscaras não substituem investimento em fontes de energia renováveis e no transporte público

O ar imprescindível para a vida do homem é, também, uma das maiores causas de sua morte. Segundo um novo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), um em cada oito óbitos no mundo - o equivalente a 7 milhões de casos - é causado pela poluição atmosférica. O levantamento levou em conta dados coletados em 2012. Quatro anos antes, foram constatadas 3,2 milhões de mortes devido à poluição do ar.

Grandes cidades tentam driblar a baixa qualidade do ar com máscaras - como ocorre nas metrópoles chinesas - e com rodízio de carros - medida adotada na semana passada por Paris. A OMS, no entanto, acredita que os "problemas básicos" sobrevivem a estas iniciativas.

- O poder público precisa definir a poluição do ar como um problema prioritário e que vai ser respondido por medidas específicas e em um tempo determinado - ressalta Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde Pública e Determinantes Sociais e Ambientais da OMS. - As empresas particulares perceberão que um novo mercado foi criado, e investirão em soluções.

A OMS investigou a ligação entre a poluição e estudos epidemiológicos. Os principais males causados pelo ar poluído são doença cardíaca isquêmica, infecção respiratória, derrame e câncer de pulmão.

- Além de contarmos com estudos sobre epidemias, que nunca havíamos considerado em nossos relatórios, conseguimos associá-los a outros fatores de risco, como tabaco, pressão arterial e dieta - explica Dora.

Nos próximos meses, a OMS divulgará a lista das cidades com pior qualidade de ar do planeta.

Embora o número de óbitos tenha mais do que duplicado entre os relatórios, o pneumologista Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), acredita que a conta ainda não reflete a realidade.

- Vários países não têm estatísticas confiáveis. Os pacientes morrem sem diagnóstico, então não sabemos quantos casos podemos atribuir a doenças que podem estar ligadas à poluição do ar, como pneumonia e infecções respiratórias - lembra.

Países do Sudeste Asiático e de regiões do Pacífico Ocidental registraram a maior quantidade de óbitos relacionados à qualidade do ar - somados, ambas regiões respondem por mais dos 3,3 milhões de casos. Em seguida vieram África, a região do Mediterrâneo Ocidental, Europa e Américas. Das 7 milhões de mortes, apenas 19 mil foram em nações de alta renda.

As mulheres experimentem níveis mais elevados de exposição pessoal à poluição - e, por isso, correm mais risco de desenvolver efeitos adversos à saúde -, mas os homens respondem pela maior parte dos óbitos, devido à combinação da baixa qualidade do ar com outras doenças.

Cerca de 4,3 milhões de óbitos são atribuídos à poluição de origem doméstica, enquanto 3,7 milhões derivam da exposição à poluição externa. Além dos índices mapeados nas pesquisas anteriores, a OMS fez inventários de emissões por satélite e observou o deslocamento dos poluentes na atmosfera. O novo método, destaca Dora, aumentou a visualização de áreas rurais, onde vive metade da população mundial.

O campo, porém, não era a única região que fugia da lupa da OMS. Diversos poluentes da cidade, como o uso de energia em edifícios e as emissões dos meios de transporte e da construção civil, eram subestimados.

(O Globo / Mark Ralston da AFP)