quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Ártico registra recorde de degelo e aquece disputa internacional
JC e-mail 4595, de 02 de Outubro de 2012.
Ártico registra recorde de degelo e aquece disputa internacional
Ambientalistas pedem preservação enquanto empresas estão de olho no gás, óleo e minérios no Polo Norte.
Sobrevoando o Oceano Ártico, a sensação era de estar diante de um espelho gigante, estilhaçado em milhões de pedacinhos. Em vez de vidro, placas de gelo quebradas, resquícios dos últimos dias de verão, refletiam de forma descontínua os raios de sol. Vistos do alto, de um helicóptero, os pedaços, já frágeis, ocupavam quilômetros de mar, mas, a cada minuto, ondas engoliam mais um trecho da cobertura branca. Diante dos nossos olhos, a geleira que cerca o Polo Norte se desfazia, materializando números que, no dia 27 de agosto, já haviam acionado o alarme sobre a situação. Este ano, foi registrado o recorde de derretimento da cobertura de gelo no oceano, desde que as medições começaram a ser feitas, em 1979. Era esse o motivo que levava à região uma expedição do Greenpeace. A bordo do navio Artic Sunrise, cientistas de diferentes partes do mundo, protestavam contra a exploração econômica do Ártico. Eles reivindicam a criação de uma área de proteção internacional.
O cenário é um exemplo vivo da elevação da temperatura da Terra, que se potencializa na região. O termômetro no local marca um aumento três vezes maior do que no resto do planeta. Cientistas alertam que o fenômeno é acelerado pela queima de combustíveis fósseis e que esse processo causará, cada vez mais, eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e secas.
Enquanto o Ártico derrete, aumentam, na mesma proporção, os interesses econômicos na região. E, aos olhos de empresas e das oito nações que têm assento no Conselho do Ártico, o problema apontado pelos ambientalistas traz oportunidades econômicas. É que o Ártico estoca 20% das reservas de petróleo e gás do mundo e vem se tornando a mais nova fronteira energética da atualidade. À medida que a camada de gelo derrete, mais fácil vai se tornando o acesso a essas riquezas ainda intocadas e novas rotas comerciais vão se abrindo para o mundo.
Nesse imbróglio, uma instituição está sendo alçada a uma importância inédita: o Conselho do Ártico, composto por Dinamarca, Suécia, Estados Unidos, Canadá, Noruega, Islândia, Finlândia e Rússia. São esses países que, juntos, têm o poder de estabelecer estratégias para a região nas áreas ambiental e econômica. A China está fora, mas está fazendo de tudo para ser incluída no conselho. Os chineses estão de olho grande na exploração de recursos locais e, especialmente, no encurtamento das distâncias para o comércio com a Europa, que, segundo estimativas, poderiam resultar em rotas comerciais cinco ou seis vezes mais curtas. O resultado sobre a candidatura da China só será divulgado em fevereiro de 2013, quando o conselho se reunirá para escolher os novos membros - ano, inclusive, em que as empresas Shell e a russa Gazprom prometem voltar com força total ao Polo Norte, já que ambas, este ano, adiaram seus planos de perfurar poços no Oceano Ártico. Atualmente, o conselho é presidido pela Suécia. CONTINUA!