segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Extração de gás de xisto vira pivô de batalha em vilarejo da Inglaterra


JC e-mail 4797, de 23 de Agosto de 2013.
Extração de gás de xisto vira pivô de batalha em vilarejo da Inglaterra 


Ativistas protestam contra exploração do produto, que, segundo eles, polui o ar e a água

Uma promessa de riqueza enterrada a 900 metros de profundidade pôs Balcombe, um vilarejo de menos de 2.000 habitantes no sul da Inglaterra, no centro do debate ambiental britânico.
 
Há um mês, moradores da região e ativistas de todo o país protestam contra a realização de testes para extrair gás de xisto do subsolo.
 
Os estudos são defendidos pelo governo David Cameron como uma luz no fim do túnel da crise energética que quase provocou um apagão no Reino Unido em março.
 
Do outro lado, os manifestantes dizem que o método de fratura hidráulica ("fracking", em inglês) das rochas de xisto pode contaminar o lençol freático, poluir o ar e até provocar terremotos.
 
A polêmica ganhou força no domingo passado, quando uma marcha de 2.000 pessoas "dobrou" a população do vilarejo e levou a petroleira Cuadrilla a interromper os trabalhos de perfuração.
 
No dia seguinte, os manifestantes fecharam a rodovia que corta a região. A polícia prendeu 29 pessoas.
 
Ontem a empresa confirmou que as atividades no subsolo foram retomadas, sob forte proteção policial.Entidades ambientalistas, que não estiveram à frente da mobilização até aqui, prometem apoiar novos protestos.
 
"A Cuadrilla tem que aceitar que não pode invadir o interior da Inglaterra com caminhões e máquinas de perfuração sem dar nenhuma garantia à população local", disse à Folha Leila Deen, uma das coordenadoras do Greenpeace britânico.
 
Em nota, a empresa afirma que se submete à fiscalização do governo e que contratou estudos independentes antes de perfurar o solo. "O último relatório não identificou nenhum impacto ambiental que possa ser causado pelas nossas atividades", diz.
 
Na exploração do xisto, as rochas são bombardeadas com uma mistura de água, areia e produtos químicos. A pressão causa fissuras no subsolo e faz com que o gás suba em direção à superfície.
 
No fim de 2011, geólogos ligaram testes feitos pela Cuadrilla a tremores de terra em Blackpool, noroeste da Inglaterra. Diante da repercussão, o governo suspendeu o "fracking" em todo o país.
 
No mês passado, o ministro das Finanças, George Osborne, encerrou a proibição e prometeu incentivos à retomada dos testes. Para ele, o xisto pode baratear a energia e reduzir as importações de gás natural.
 
(Bernardo Mello Franco/Folha de S.Paulo)
 
Leia também:
SBPC e ABC enviam carta à presidente Dilma Rousseff solicitando a suspensão da licitação para a exploração do gás de xisto (matéria de arquivo do Jornal da Ciência): http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=88545