sábado, 10 de agosto de 2013

Os três mil esqueletos do metrô de Londres


JC e-mail 4787, de 09 de Agosto de 2013.
Os três mil esqueletos do metrô de Londres


Cemitério do século XVII é achado sob movimentada estação

As obras de ampliação do metrô de Londres revelam tesouros arqueológicos que recontam desde as primeiras ocupações humanas às margens do Rio Tâmisa, 9 mil anos atrás, até as dos últimos séculos, passando por construções romanas. A última descoberta é de um cemitério do século XVII onde pelo menos três mil corpos foram enterrados - "uma amostra real da sociedade londrina ao longo dos séculos", nas palavras de Jay Carver, o arqueólogo responsável pelas escavações.

Entre as pessoas ali enterradas estão os pacientes que morreram em um dos primeiros hospitais do mundo a tratar de doentes mentais, o Bethlem (de onde vem a palavra inglesa bedlam ou "casa de loucos"), e cujos corpos nunca foram reclamados por suas famílias. Também foram sepultadas no local vítimas das guerras e das mais terríveis pragas que se abateram sobre a cidade no passado, como a peste negra. Bem como pessoas de todas as classes sociais e de todas as regiões.

- Por conta de sua história, sabemos que este é um dos mais diversos locais de sepultamento de Londres - afirmou Carver em entrevista ao jornal britânico "The Guardian". - A preservação dos ossos é excelente nas descobertas que já fizemos e esperamos muitos achados importantes quando alcançarmos a fase principal da escavação.

Registros também da pré-História
O cemitério murado, de oito mil metros quadrados, foi aberto em meados do século XVII por ordem da Prefeitura de Londres. Foi o primeiro cemitério da cidade construído distante de uma igreja ou paróquia e, por isso, recebeu gente de todas as classes sociais e das mais diversas áreas da cidade. Há várias camadas de sepultamento, segundo os arqueólogos.

Quando o cemitério foi fechado, em 1714, havia pelo menos dois metros de enterramentos. Carver acredita que terá problemas para identificar os mortos, já que não existem registros do cemitério, apenas das paróquias. Mas ele pretende pedir ajuda da população na empreitada. Os corpos começarão a ser desenterrados já no ano que vem.

A escavação para a ampliação do metrô londrino é considerada o maior projeto arqueológico em andamento hoje no Reino Unido e o maior projeto de infraestrutura da Europa, com um orçamento de 18 bilhões de euros. São 118 quilômetros de escavação, que já revelaram nada menos que 40 sítios arqueológicos.

Entre as descobertas mais importantes já feitas estão uma moeda de ouro proveniente de Veneza de dois mil anos atrás. Os arqueólogos também encontraram um trecho de uma estrada romana feita com "soberbas técnicas de engenharia", segundo os especialistas, que provavelmente levava a uma ponte sobre o Rio Walbrook.

Encravado no que seria o leito da estrada está um osso humano, possivelmente arrastado de algum lugar das vizinhanças, e também uma ferradura de cavalo. Mais descobertas do período romano são esperadas.

Mas muito antes disso, até 9 mil anos atrás, a região hoje ocupada pela capital britânica já abrigava assentamentos humanos, como também revelaram as escavações, num raro achado. Na verdade, os arqueólogos descobriram uma verdadeira fábrica de ferramentas do período Mesolítico (de 10 mil a.C. a 5 mil a.C.). Foram desenterradas nada menos que 150 peças de sílex (uma pedra muito dura usada como arma na pré-história).

- Trata-se de uma descoberta única e excitante que revela indícios de homens retornando à região da atual Inglaterra, em particular, às margens do Rio Tâmisa, depois de um longo hiato estabelecido pela Idade do Gelo - afirmou, em entrevista à "BBC", Carver. - Os sítios arqueológicos descobertos confirmam que homens viveram no Tâmisa neste período. E a concentração de peças de sílex encontradas revela que era uma área muito importante como fonte de material e na fabricação de ferramentas usadas pelos primeiros londrinos, que viviam e caçavam nas ilhas do Tâmisa.

(O Globo)