02.03.2012
[EcoDebate] Na edição de 29/02, falamos sobre o uso e o perigo que representa o Mercúrio, bem como o total desconhecimento que cerca o elemento Hg, e as conseqüências nefastas advindas do seu uso indiscriminado e irresponsável. Aliás, se todo o mercúrio utilizado no Brasil é importado da Espanha, a quem interessaria manter esse “estado” de desconhecimento? Aí tem….!!
Hoje contaremos um caso sobre o elemento mercúrio; são casos verídicos e nos foram contados por pessoas acima de qualquer suspeita.
Portanto, em seu âmago , a história é verdadeira. Ela só descamba para o campo da fantasia, nas derivações. Aí entra a imaginação do autor do texto, pois esse espaço não fora preenchido.
O caso passou-se em uma pequena Vila na Europa (Inglaterra? Suíça?)
Como se sabe, o povo europeu se aglutina em torno de um Lago, Rio ou semelhante. Esse fato por si só, explica a falta de cuidados ambientais com que o homem trata o seu meio. Basta lembrar que o homem é o único animal que defeca na água.!
Pois bem, após anos de perfeita harmonia, a população da Vila começou a apresentar sintomas estranhos, onde se pode destacar a falta de equilíbrio corporal e agressividade. Labirintite? Descartada! Doença do SNC – Sistema Nervoso Central? Hum… . Então, vários médicos Europeus e outros “importados”, começaram a vasculhar toda e qualquer mudança de hábitos que pudesse levar ao quadro de intoxicação observado. Depois de muito pesquisar, chegou-se ao seguinte veredito: a população afetada apresentava inúmeras semelhanças com um mal já debelado (Quando se descobre a causa pode-se combatê-la e não somente o seu efeito…) e que havia sido diagnosticado na Baía de Minamata (Japão): Intoxicação por mercúrio!
Mas, onde o povo da pacata Vila poderia ter tido acesso ao Mercúrio? Foi aí que um cidadão, morador da Vila, cuja filha havia falecido em função do mal que assolava o lugarejo, colocou como objetivo de vida, a busca incessante de soluções completas para o diagnóstico e tratamento da doença. Após verificar e investigar as farmácias principalmente as de Manipulação, só sobrou investigar o Hospital, que sempre fora uma referência no bem atender a seus pacientes. Pacientemente, dia após dia, o homem-detetive se pôs a observar o comportamento do pessoal lotado no Hospital. Não havia nada de anormal. Foi aí que se lembrou de um pequeno detalhe: Onde se manipulava mercúrio no Hospital? Nos TERMÔMETROS! Essa passou a ser sua linha mestra de investigação, talvez por falta de opções, pois qual elo unia a população afetada com o mercúrio dos termômetros do hospital? E mais: como pai presente na educação e crescimento de seus filhos, tinha certeza absoluta de que sua filha (morta) jamais pisara naquele hospital!
Podemos imaginar seu estado de espírito após essas constatações! Mas como havia prometido à sua filha agonizante só parar quando houvesse descoberto o motivo da louca doença, continuou em sua investigação.
Um belo dia, andando cabisbaixo pelo corredor do hospital, cruzou com uma freira-enfermeira que carregava uma pequena bandeja metálica. Num rápido relance, nosso detetive pode ver entre o material que seria descartado no lixo, algo que classificou como um termômetro com a ponta oposta ao depósito de mercúrio, quebrada! Resolveu acompanhá-la pelo corredor imenso, conversando sobre banalidades. Após descartar o material no lixo hospitalar, quase sem perceber a freira encaminhou-se para uma das muitas pias d’água que existiam no hospital, com o termômetro quebrado seguro em sua mão direita – pela extremidade não quebrada. Em seguida jogou o mercúrio restante no interior do depósito dentro da pia com um rápido e enérgico movimento de sua mão abrindo, logo após, a torneira a título de “descarga”. Quando se voltou para o lado, onde instantes antes estava o seu “amigo”, deparou com o vazio. – “É… deve ser algum maluco! E eu, como sempre, dando papo”! Pensou, e com um balançar de cabeça, afastou-se. O homem, com o cérebro trabalhando a mil por hora, foi imediatamente até a diretoria do hospital e todo esbaforido relatou o ocorrido à diretora, que ainda assustada com a entrada intempestiva daquele homem gritando: ”Eu vi! Eu sei! Agora entendi qual a ligação do mercúrio do hospital com os doentes, como minha filha! Foi via LAGO!”
A diretora, que não era um exemplo de honestidade a ser seguido, pensou: “vai que esse maluco está investigando o sumiço daquela verba repassada recentemente ao hospital”..e, imediatamente, acabou com qualquer vestígio de incerteza que ainda pudesse rondar a cabeça do nosso herói, quando disse, com os olhos arregalados de medo e pavor: – “todos aqui no hospital fazem isso! Afinal é um termômetro quebrado e, ademais toda a rede de esgoto vai sair naquele lago imundo”!
O resto da história, todos já conhecem: O mercúrio (metálico) dos termômetros quebrados caía no lago, onde o plâncton o transformava em dimetil-mercúrio (orgânico). A maioria dos habitantes se alimentava do peixe pescado no lago, e aí… .Caso não se lembrem mais, por favor, leiam a reportagem publicada em nº anterior “MERCÙRIO- (Hg) ASSASSINO”….
Conclusões: 1 ano depois da descoberta retro-mencionada, o lago havia sido descontaminado com a ajuda de aguapés; por ordem do MP a Diretora do Hospital foi exonerada e logo depois presa, tendo todos os seus bens apreendidos, e a “doença” – Mal de Minamata – foi eliminada da Vila, que voltou a ser um local pacato e sem os avanços tecnológicos das grandes cidades.
Este caso nos foi contado pelo Professor Roberto Millward de Andrade, da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), quando trabalhamos juntos na ENGEVIX Engenharia, no Rio de Janeiro (1987 a 1992) . Serve para mostrar o quanto é frágil o meio em que vivemos, e que a natureza não perdoa jamais!
Pergunta: “Sabem qual a diferença entre Deus, o homem e a natureza?” Não?
Resposta: “Deus é um ser de infinita bondade e perdoa sempre; O homem perdoa às ou (à$) vezes, e a natureza não perdoa nunca!!”
Gabriel Tadeu Franqueira Junqueira
Engº Geólogo, CREA-MG n° 17.772/D