quarta-feira, 14 de março de 2012

Brasileiros desconhecem a Rio+20. Por quê?

JC e-mail 4454, de 13 de Março de 2012.
Brasileiros desconhecem a Rio+20. Por quê?


Artigo de Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto Ethos, publicado no Correio Braziliense de hoje (13).

Pesquisa realizada neste início de ano por uma parceria entre a empresa Market Analysis e a ONG Vitae Civilis mostrou que apenas 11,5% dos brasileiros têm alguma informação a respeito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que vai ocorrer no Rio entre os dias 14 e 22 de junho deste ano.

A pesquisa foi realizada por telefone, em nove capitais, com 806 pessoas de 18 a 69 anos de idade. Dos entrevistados, 4% pertencem à classe A, 29% à B, 49% à C e 18% às classes D e E. Entre todos, apenas 4,4% ouviram "muito" sobre a Rio+20, enquanto 7,1% disseram ter ouvido "alguma coisa". Dos 11,5% que conhecem a Rio+20, 73% se interessam pelos assuntos relacionados ao evento. Os mais mencionados foram desenvolvimento sustentável, economia verde, combate à violência, combate ao tráfico de drogas, Copa de 2014, erradicação da pobreza, meio ambiente (geral) e combate à poluição.

O Rio de Janeiro, onde será realizada a conferência, é a cidade do País em que a população tem mais conhecimento a respeito: 24%. Por que tão pouca gente está interessada na Rio+20?

Na minha opinião, as discussões ocorridas até agora têm focado apenas nas negociações, sem se preocupar em esclarecer a sociedade sobre as mudanças que o evento poderá trazer ao mercado e à vida das pessoas. A mídia também passa ao largo do debate e não provoca os órgãos e entidades envolvidos a dar esses esclarecimentos para, com isso, aumentar o interesse da população e, em consequência, a relevância da conferência para os diversos segmentos da sociedade.

Quais podem ser os impactos da Rio+20? São muitos e requerem profunda reflexão. Por isso, a Conferência Ethos 2012 vai discutir "A empresa e a nova economia - o que muda com a Rio+20", entre os dias 11 e 13 de junho, em São Paulo. Serão analisados em profundidade os temas que vão ser objetos de negociação na Rio+20.

As discussões vão desenhar cenários para verificar o impacto do que poderá ser decidido - e também do que não for decidido - no mercado e na vida das pessoas. Haverá também o aprofundamento das reflexões sobre os temas estruturantes da nova economia e o aperfeiçoamento das propostas de mecanismos que ajudem a internalizar as premissas do desenvolvimento sustentável na economia e na política.

Vamos construir um cenário com duas das propostas em discussão. Suponhamos que a Rio+20 aprove a orientação já estabelecida em seu "rascunho zero" oficial (documento que está orientando as discussões da conferência) de "eliminar gradualmente subsídios que exerçam efeitos negativos sobre o meio ambiente". Uma das consequências dessa decisão seria, por exemplo, políticas econômicas totalmente reformuladas, levando em conta os critérios decididos na Rio+20.

No caso brasileiro, o governo não poderia reduzir o IPI dos carros e da linha branca sem exigir contrapartidas que diferenciassem produtos poluentes de não poluentes. E a indústria, para se beneficiar de isenções e outros incentivos fiscais, precisaria investir numa produção mais verde. O cidadão teria à disposição, por exemplo, carros menos poluentes e geladeiras mais eficientes em consumo de energia, a preços menores.

Se a Rio+20 resolvesse se apresentar como a saída para a crise, então poderíamos imaginar uma transformação radical nos negócios e no nosso modo de vida, pois as premissas do desenvolvimento sustentável norteariam as decisões dos governos e das empresas.

Um dos aspectos mais cruéis do nosso modelo insustentável de civilização é a crise financeira atual, que aumenta a cada nova onda e vai levando consigo a confiança no mercado e nas instituições democráticas, os valores que norteiam as relações humanas e os recursos materiais e naturais das sociedades e do planeta.