domingo, 26 de agosto de 2012

Entre a cátedra e o ateliê - Arte e ciência nos desenhos anatômicos de da Vinci

Via Revista Pesquisa FAPESP
Por CARLOS HAAG
Edição 198 - Agosto de 2012

de Londres

Desenhos de anatomia de Leonardo da Vinci, desconhecidos por séculos, revelam tentativa de unir arte e ciência

O que há por trás do sorriso de Mona Lisa? A resposta talvez desaponte os fãs de códigos secretos: a tentativa de Leonardo da Vinci (1452-1519) de romper limites e aproximar arte e ciência na Renascença. Mais do que um pintor que se “aventurava” em questões científicas, Leonardo desejava a criação de uma “ciência visual”. A anatomia foi o campo escolhido por Da Vinci para sua síntese de arte e ciência, como revelam a exposição Leonardo da Vinci: anatomist, que reúne os mais de 200 desenhos feitos pelo pintor do corpo humano, em cartaz em Londres até 7 de outubro, e o estudo A natureza, a razão e a ciência do homem: edição dos estudos de anatomia de Leonardo da Vinci, do historiador Eduardo Kickhöfel, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O projeto prevê a edição comentada da série “anatômica” de Leonardo, analisando a posição do artista como anatomista na história da filosofia natural, ajudando a descrever como se deu o desenvolvimento dos termos “arte” e “ciência”.

Entre 1490 e 1513, o pintor dissecou mais de 30 corpos e retratou o que viu com precisão, um verdadeiro tratado que, se publicado, teria transformado o estudo da anatomia na Europa muito antes e melhor do que em De humanis corporis fabrica (1543), de Vesalius. “Não havia desenhos de anatomia na época de Leonardo. O conhecimento anatômico era o texto, em especial o livro de Mondino de Liuzzi, um anatomista do século XIV, que era lido nas demonstrações realizadas nas universidades. Como faria Vesalius, mais tarde, Da Vinci preconizava a experiência direta e criou uma pintura tão informada pelas ciências naturais que ela própria passava a ser uma ciência. Não há nada na Renascença italiana que se assemelhe ao legado dele”, explica Eduardo. “A maioria das estruturas que ele descreveu só seria retratada séculos mais tarde. Se ele tivesse publicado o seu tratado de anatomia, hoje seria conhecido como um dos maiores cientistas da história”, avalia o historiador Martin Clayt on, curador da exposição londrina, em exibição na Queen’s Gallery. CONTINUA!