sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Hominídeos de três espécies conviveram na África, diz estudo


JC e-mail 4558, de 09 de Agosto de 2012.
Hominídeos de três espécies conviveram na África, diz estudo


Novos fósseis sugerem que humanos primitivos eram grupo diversificado no Quênia há 1,9 milhão de anos.

É um cenário que parece saído de romances de fantasia, como "O Senhor dos Anéis": três espécies distintas de seres inteligentes, cada uma delas com aparência e cultura próprias, vivendo lado a lado por milênios.

Segundo uma nova pesquisa, é exatamente isso o que aconteceu na África Oriental há 1,9 milhão de anos, quando o gênero humano, o Homo, estava se estabelecendo. Novos fósseis - fragmentos de um crânio e mandíbulas -, descobertos em Koobi Fora, no Quênia, são a base dessa hipótese, defendida em estudo na edição de hoje (9) da revista científica "Nature".

O grupo de Meave Leakey, do Instituto da Bacia Turkana, em Nairóbi, analisou a anatomia desses cacos e concluiu que eles se encaixariam com outro fóssil, o crânio conhecido como KNM-ER 1470, achado nos anos 1970.

Para alguns, o KNM-ER 1470 representaria uma espécie separada de hominídeo, o Homo rudolfensis, distinta de dois velhos conhecidos dos paleoantropólogos, o Homo erectus e o Homo habilis. Para outros, ele não passaria de uma variante do H. habilis. Os novos fósseis parecem confirmar que o H. rudolfensis pertencia a uma linhagem distinta - embora Leakey e seus colegas não usem o nome. Querem mais estudos antes de dar esse passo.

Se eles estiverem corretos, cai por terra de vez uma ideia que já estava sendo muito atacada: a de que teria havido uma progressão linear de espécies de humanos primitivos - H. habilis gerando H. erectus gerando H. sapiens - rumo ao homem moderno. Em vez disso, prevaleceria o chamado modelo do arbusto: vários "galhos" da linhagem humana evoluindo ao mesmo tempo, cada um com suas próprias adaptações e estilos de vida. Alguns teriam se extinguido, enquanto outros deixaram descendentes.

Esteban Sarmiento, primatologista da Fundação Evolução Humana, em Nova York, diz que tem dúvidas sobre as conclusões do estudo. "No fundo, o principal argumento para associarem esses fósseis ao KNM-ER 1470 é a idade deles, a comparação morfológica não mostra isso."
(Folha de São Paulo)