quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O consumo insustentável e os oceanos à beira de uma catástrofe, por Henrique Cortez

Via EcoDebate
16.08.2012



Nos últimos dez anos a população de atuns vermelhos diminuiu 90 por cento.Um atum de 150 quilos como este é raridade. O mais nobre dos peixes foi dizimado. Só restam peixinhos ridículos. E estão ameaçados.
 Foto na revista ÉPOCA.
 
[EcoDebate] O rápido esgotamento dos estoques pesqueiros e a crescente degradação dos ecossistemas marinhos são temas que muitas pessoas já ouviram falar, mas, definitivamente, não se importam ou não se preocupam.

A acidificação dos oceanos, em razão do aumento da concentração do CO2 atmosférico, o aquecimento global e as mudanças climáticas ameaçam os ecossistemas marinhos e, diante da inação global, esta ameaça é crescente.

Como se não bastasse, a superexploração em razão do consumo insustentável, ameaçam os oceanos ainda mais rapidamente do que o aumento da concentração do CO2 atmosférico.
O relatório da FAO ‘The State of World Fisheries and Aquaculture 2012 ’ foi bastante noticiado, inclusive aqui no EcoDebate, mas a reação foi mínima, tanto no Brasil como nos EUA e Europa.
Como em outros temas relacionados à crise ambiental global, a maioria das pessoas prefere manter-se alheia ao problema. Não questiono a opção consumista alienada destas pessoas, mas tenho o direito de discutir que isto tem um ‘preço’, a ser pago pelas próximas gerações, nossos filhos e netos.

Segundo o relatório, 30% dos peixes do mundo são superexplorados (e podem desaparecer) e outros 57% estão próximos do limite de extração sustentável.
O relatório da FAO reafirma que a pesca comercial em grande escala já captura 80% de todas espécies oceânicas além de sua capacidade máxima de reposição e que a sobrepesca continua a crescer.

A redução dos ‘estoques’ oceânicos vem sendo compensada pela piscicultura comercial, que, de acordo com o relatório, já oferta 50% dos peixes consumidos em escala global. Em 2002 a piscicultura respondia por 1/3 da oferta.

A tendência de crescimento da piscicultura parece ser uma boa notícia, na medida em que, aparentemente, reduzirá a pressão sobre os cardumes oceânicos. Parece, mas não é.
A piscicultura precisa alimentar os peixes ao máximo, no menor tempo possível, para que atinjam tamanho e peso com valor comercial. Para isto usam rações e óleos produzidos a partir de pequenas espécies como sardinha. Estas pequenas espécies, que são de fundamental importância na cadeia alimentar, também estão sob imensa pressão de sobrepesca e a piscicultura é uma das razões.

As pequenas espécies, que, aparentemente, tem pequeno valor comercial, são intensamente capturadas para produção de rações. Um terço da captura mundial de peixe é desperdiçado na produção de ração animal, sendo que as rações preparadas a partir de peixes representam 37% (31,5 milhões de toneladas) do total de peixes retirados dos oceanos a cada ano e 90 % das capturas transformam-se em farinha e óleo de peixe. Em 2002, 46% de farinha de peixe e óleo de peixe foram utilizadas como alimento para a aqüicultura (piscicultura), 24% para alimentar porcos e 22% para a alimentação de aves.

Um terço do que acaba nas redes de pesca é jogado fora – Três em cada 10 peixes são mortos por engano e são jogados de volta na água. Todos os anos, 250 mil tartarugas são mortas pelos ganchos destinados aos peixes-espada. Mais de 70% dos estoques populacionais de peixes da Europa progressivamente são empobrecidos pelo uso excessivo das redes. CONTINUA!