domingo, 17 de fevereiro de 2013
Pesquisas científicas financiadas por indústria de alimentos são alvo de crítica
JC e-mail 4665, de 15 de Fevereiro de 2013.
Pesquisas científicas financiadas por indústria de alimentos são alvo de crítica
De acordo com trabalho publicado na Lancet, estudos pagos pela indústria de alimentos tem uma chance até oito vezes maior de ter conclusões favoráveis a essas empresas do que estudos independentes
Artigo publicado em uma edição especial da revista médica "Lancet" sobre o combate às doenças crônicas afirma que a indústria de alimentos tem se comportado de forma similar às fabricantes de cigarro na hora de influenciar governantes e profissionais a implementar políticas para reduzir o consumo de gordura, açúcar e sódio.
De acordo com o trabalho assinado por Rob Moodie, da Universidade de Melbourne, na Austrália, e Carlos Monteiro, professor de nutrição da USP, pesquisas científicas financiadas pela indústria de alimentos tem uma chance até oito vezes maior de ter conclusões favoráveis a essas empresas do que estudos independentes.
Para eles, acordos entre o governo e a indústria para cortar sódio, gorduras e açúcar de alimentos acabam tomando o lugar de regulamentações mais rígidas.
Segundo o artigo, não há evidência de que acordos voluntários surtam efeito.
Além da influência política, as fabricantes de alimentos também teriam em comum com as de cigarro a migração de seus esforços para países de renda média e baixa, já que os ricos estão com seus mercados saturados. Nos últimos anos, a ONU foi criticada por supostamente ceder aos interesses da indústria ao formular políticas para o controle de doenças como hipertensão e diabetes.
No entanto, o modelo de parcerias com a iniciativa privada vem sendo adotado em muitos países, inclusive no Brasil, onde as fabricantes se comprometeram a reduzir os níveis de sódio dos alimentos.
O acordo também é alvo de críticas por aqui. Um levantamento do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) mostrou que as metas de corte de sódio são tímidas demais para ter impacto, conforme a Folha noticiou na semana passada.
Para a indústria, a redução depende de adaptações tecnológicas e também do hábito do consumidor.
(Folha Online)