quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Princesas da Disney moldam feminilidade em crianças
Via Agência USP de Notícias
Por Igor Truz - igor.moraes@usp.br
06.02.2013
No Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a antropóloga Michele Escoura estudou de que maneira as imagens de princesas de contos de fadas servem como um referencial de gênero e exemplo de feminilidade. A pesquisa foi realizada com aproximadamente duzentas crianças de cinco anos de três escolas, públicas e particulares, do interior de São Paulo — duas em Jundiaí e uma em Marília. Por intermédio de observações participantes, Michele avaliou a influência exercida nas crianças pela marca registrada “Disney Princesas”. As imagens das personagens das produções cinematográficas dos estúdios Walt Disney estão presentes no imaginário e no cotidiano da maioria das meninas e carregam em si uma série de particulares significados. Segundo a antropóloga, é necessário mostrar a elas outros referenciais de mundo e do que é ser mulher.
A pesquisa Girando entre Princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças foi fundamentada nas teorias de gênero, difundidas a partir dos anos 1970. “Segundo as teorias de gênero, os referenciais de masculinidade e feminilidade não são pautados pela natureza, mas apreendidos segundo os modos de socialização a que nos submetemos. Diferentemente do sexo, enquanto um referencial anatômico de macho e fêmea, os gêneros masculino e feminino resultam de uma construção social, e variam de acordo com cada cultura”, afirma Michele.
Durante o acompanhamento do cotidiano das crianças de diferentes classes sociais, que durou um ano, Michele percebeu que as princesas da Disney eram operadas como um referencial para demarcar o gênero: “Uma brincadeira era de menina quando de alguma maneira as crianças resolviam brincar de princesas. As meninas não tinham necessariamente que reproduzir as ações das personagens nas brincadeiras, mas apenas a citação das princesas, ou a utilização de algum produto relacionado a elas enquanto brincavam já demarcava a participação exclusiva de meninas naquela atividade.”
Casamento: uma necessidade?
Além de acompanhar as brincadeiras, Michele exibiu nas escolas os filmes “Cinderela” e “Mulan”, com o objetivo de mapear como as crianças compreendiam as narrativas dos filmes com princesas da Disney. A escolha foi feita porque tratam-se de duas personagens “Disney Princesas”conceitualmente diferentes. Enquanto Cinderela é a princesa ‘clássica’, passiva, sempre à espera de outras pessoas para resolver os seus problemas, Mulan, segundo a própria descrição no site da Disney, é uma princesa rebelde, que a partir de suas ações, desencadeia os acontecimentos na história.”
Após as exibições, a antropóloga solicitou que as crianças retratassem, em desenhos comentados, a cena mais relevante de cada um dos filmes. Entre os muitos elementos captados, alguns chamavam a atenção, como a necessidade de vínculo conjugal da princesa com um príncipe, ou ainda o padrão estético, de beleza e comportamento.
De acordo Michele, o estatus de princesa não foi facilmente atribuído pelas crianças à Mulan, em contraposição à Cinderela. Muitas crianças resistiram em considerar Mulan uma princesa e os argumentos, principalmente, se pautavam em dois motivos: Primeiro, por a personagem não apresentar o padrão estético, de beleza e comportamento, da maioria das outras princesas. Em segundo lugar, e mais importante, pelo final do filme não deixar claro se Mulan se casou ou não. Segundo Michele, indagada sobre o porquê Mulan não seria uma princesa, uma das crianças respondeu: “Tia, para ser princesa precisa casar, né? Senão não vai ser princesa, vai ser solteira!” CONTINUA!
Por Igor Truz - igor.moraes@usp.br
06.02.2013
No Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a antropóloga Michele Escoura estudou de que maneira as imagens de princesas de contos de fadas servem como um referencial de gênero e exemplo de feminilidade. A pesquisa foi realizada com aproximadamente duzentas crianças de cinco anos de três escolas, públicas e particulares, do interior de São Paulo — duas em Jundiaí e uma em Marília. Por intermédio de observações participantes, Michele avaliou a influência exercida nas crianças pela marca registrada “Disney Princesas”. As imagens das personagens das produções cinematográficas dos estúdios Walt Disney estão presentes no imaginário e no cotidiano da maioria das meninas e carregam em si uma série de particulares significados. Segundo a antropóloga, é necessário mostrar a elas outros referenciais de mundo e do que é ser mulher.
A pesquisa Girando entre Princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças foi fundamentada nas teorias de gênero, difundidas a partir dos anos 1970. “Segundo as teorias de gênero, os referenciais de masculinidade e feminilidade não são pautados pela natureza, mas apreendidos segundo os modos de socialização a que nos submetemos. Diferentemente do sexo, enquanto um referencial anatômico de macho e fêmea, os gêneros masculino e feminino resultam de uma construção social, e variam de acordo com cada cultura”, afirma Michele.
Durante o acompanhamento do cotidiano das crianças de diferentes classes sociais, que durou um ano, Michele percebeu que as princesas da Disney eram operadas como um referencial para demarcar o gênero: “Uma brincadeira era de menina quando de alguma maneira as crianças resolviam brincar de princesas. As meninas não tinham necessariamente que reproduzir as ações das personagens nas brincadeiras, mas apenas a citação das princesas, ou a utilização de algum produto relacionado a elas enquanto brincavam já demarcava a participação exclusiva de meninas naquela atividade.”
Casamento: uma necessidade?
Além de acompanhar as brincadeiras, Michele exibiu nas escolas os filmes “Cinderela” e “Mulan”, com o objetivo de mapear como as crianças compreendiam as narrativas dos filmes com princesas da Disney. A escolha foi feita porque tratam-se de duas personagens “Disney Princesas”conceitualmente diferentes. Enquanto Cinderela é a princesa ‘clássica’, passiva, sempre à espera de outras pessoas para resolver os seus problemas, Mulan, segundo a própria descrição no site da Disney, é uma princesa rebelde, que a partir de suas ações, desencadeia os acontecimentos na história.”
Após as exibições, a antropóloga solicitou que as crianças retratassem, em desenhos comentados, a cena mais relevante de cada um dos filmes. Entre os muitos elementos captados, alguns chamavam a atenção, como a necessidade de vínculo conjugal da princesa com um príncipe, ou ainda o padrão estético, de beleza e comportamento.
De acordo Michele, o estatus de princesa não foi facilmente atribuído pelas crianças à Mulan, em contraposição à Cinderela. Muitas crianças resistiram em considerar Mulan uma princesa e os argumentos, principalmente, se pautavam em dois motivos: Primeiro, por a personagem não apresentar o padrão estético, de beleza e comportamento, da maioria das outras princesas. Em segundo lugar, e mais importante, pelo final do filme não deixar claro se Mulan se casou ou não. Segundo Michele, indagada sobre o porquê Mulan não seria uma princesa, uma das crianças respondeu: “Tia, para ser princesa precisa casar, né? Senão não vai ser princesa, vai ser solteira!” CONTINUA!