sexta-feira, 9 de março de 2012

Divulgação de genoma do gorila lança luz sobre evolução humana

JC e-mail 4451, de 08 de Março de 2012.
Divulgação de genoma do gorila lança luz sobre evolução humana


Animal é último dos grandes primatas a ter seu DNA mapeado.

A família dos primatas está completa. Após orangotangos, chimpanzés e seres humanos, um gorila teve seu genoma sequenciado. A iniciativa, que reuniu 20 laboratórios de sete países, levantou novas perguntas sobre nossa própria evolução. Descobriu-se que, embora nos pareçamos mais com os chimpanzés, 15% de nosso DNA é mais semelhante ao dos gorilas, incluindo funções relacionadas à audição - ligadas, também, ao desenvolvimento da linguagem. Esta conclusão levará a novos estudos sobre nossa habilidade de se comunicar e armazenar conhecimento, e até que ponto ela trata-se, de fato, de algo inato ao Homo sapiens.

Até 8 ou 9 milhões de anos atrás, homens e gorilas compartilhavam um mesmo ancestral. Apesar de ser muito tempo, as duas espécies ainda têm cerca de 97% do genoma em comum. Pequenas sequências genéticas dos gorilas já eram usadas em pesquisas, mas só agora, após concluído todo o mapeamento do seu DNA, foi possível ver em quais locais a diferenciação das duas espécies se mostrou mais acentuada.

Os genomas dos quatro grandes primatas (os seres humanos entre eles) se revelam extremamente similares, mostrando que tiveram um ancestral comum há 80 milhões de anos. Humanos e chimpanzés compartilham nada menos que 99% de seus genes; enquanto com orangotangos, a similaridade é de 96%. A comparação dessas sequências pode revelar por que, apesar de tamanha semelhança genética, o homem se tornou uma espécie diferenciada, a única a desenvolver a linguagem e a cultura. Pode revelar também coisas mais prosaicas, como nossa vulnerabilidade a doenças.

"Ter uma comparação do genoma de todos os grandes primatas permite reflexões sobre as condições demográficas e evolucionárias de um período muito interessante de nossa evolução, pouco depois de nossa separação dos chimpanzés, há seis milhões de anos", destacou o pesquisador Aylwyn Scally, do Instituto britânico Wellcome Trust Sanger, que liderou o trabalho e é autor principal de um estudo publicado esta semana pela "Nature".

A análise comparativa revelou também similaridades em genes envolvidos na percepção sensorial e audição e o desenvolvimento do cérebro se mostrou acelerado nas três espécies. A semelhança dos genes associados com a audição em homens e gorilas intrigou os cientistas.

"Os cientistas sugeriam até agora que a rápida evolução dos genes de audição estaria ligada à evolução da linguagem", ressaltou Chris Tyler-Smith, também do Instituto Sanger. "Nossos resultados põem isso em dúvida, já que sua evolução nos gorilas ocorreu em um ritmo similar ao registrado nos humanos". Continua