sexta-feira, 6 de abril de 2012

Aeroporto aumentaria visitas no Parque Nacional Serra da Capivara

JC e-mail 4471, de 05 de Abril de 2012.
Aeroporto aumentaria visitas


Outra questão importante para o desenvolvimento da região é a do aeroporto de São Raimundo Nonato, que poderia ser um incentivo para a chegada de mais pesquisadores e de muito mais turistas ao Parque Nacional Serra da Capivara. De acordo com Niéde Guidon, o Parque atualmente recebe apenas "turistas de classe AA", bem informados, com interesse em cultura e meio ambiente e com condições de chegar até lá.

"Uma condição sine qua non para o Parque funcionar é ter o aeroporto, senão, fica tudo mais difícil", reforça Eugênia Maria Vitória de Medeiros, da Coordenação Regional do ICMBio em Parnaíba. "Termos, a 100 quilômetros de lá, o Parque da Serra das Confusões, que já vai se agregar a esse complexo turístico, outra área também de grande importância científica. O governo tem que voltar os olhos para essa região com mais carinho", alerta.

Segundo conta Niéde, em 1997, o Governo Federal liberou R$ 15 milhões para a construção do aeroporto. Porém, o dinheiro foi repassado para o governo estadual e teria sido destinado a campanhas eleitorais e obras para fazer estradas. Niéde conta que, depois de muita espera, aguarda-se que as obras recomecem em abril.

Na carta enviada ao senador Eduardo Suplicy, em que defende a intervenção do governo em prol da conservação e manutenção do Parque, a pesquisadora informa que foi construída a pista do aeroporto (de 1,6 km) e que o terminal está parcialmente construído, faltando apenas o seu acabamento e a infraestrutura necessária para o seu funcionamento.

Aeroporto provisório - A arqueóloga e membro da Fumdham Silvia Maranca lembra que em 2009, durante o Global Rock Art - Congresso Internacional de Arte Rupestre, o aeroporto entrou em funcionamento com uma infraestrutura provisória, "edifícios pré-moldados vindos de Teresina", que incluíam área receptiva, sala de operacionalização e salas para companhias aéreas. No entanto, a estrutura já foi desmontada. "Acabado o Congresso, o governador [Wellington Dias] mandou buscar tudo de volta para Teresina. Como vamos receber aviões sem banheiros, sem hangar, sem recepção?", lamenta.

A solução de chegar por terra tampouco é das melhores, conforme lembra Silvia. "Quando chove, a viagem pela estrada que liga Petrolina, por exemplo, a São Raimundo, que tem 300 quilômetros, pode durar oito horas. As condições são muito ruins. Temos turistas estrangeiros que já têm uma certa idade. Não podem chegar aqui dessa forma", explica.

"Hoje, um Patrimônio da Humanidade recebe no mínimo cinco milhões de turistas, que é o que o Brasil inteiro alcançou no ano passado. O País recebe poucos turistas porque passa essa imagem de praia, da farra e prostituição. Esse não é um tipo de turista que vem para o Parque", denuncia Niéde, lembrando que o Serra da Capivara tem cerca de 15 mil visitantes por ano.

Niéde usou dinheiro do próprio bolso - R$ 1 milhão no total, segundo afirma -, acreditando que o Parque se sustentaria. Parte do dinheiro ela investiu comprando terrenos no entorno desse Patrimônio da Humanidade, com a ideia de tornar o Parque autossustentável ao se associar com empresas que construíssem hotéis. "Alguns empresários vieram, disseram que nunca viram coisa igual no mundo, mas afirmam que sem aeroporto simplesmente não querem construir", conclui.

(Clarissa Vasconcellos - Jornal da Ciência)

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