Por Flávia Villela
10.04.2012
Rio de Janeiro – Mais de um ano depois das enchentes de janeiro de 2011 na região serrana do Rio, quando centenas de pessoas morreram e outras centenas ficaram sem moradia, o Poder Público pouco fez para prevenir novos desastres. A opinião é da promotora de Justiça Anaiza Malhardes Miranda, titular da 1ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva do Núcleo Teresópolis.
Em janeiro a promotora ajuizou sete ações civis públicas para que o governo do Rio e a prefeitura de Teresópolis retirassem imediatamente moradores de áreas com risco de deslizamentos e enchentes e realizassem obras de contenção e estabilização de encostas. Segundo ela, a prefeitura não tem orçamento nem infraestrutura para solucionar o problema sozinha e enquanto todos os entes federados não atuarem com celeridade, tragédias, como a da última sexta-feira (6), voltaram a ocorrer em dias de chuva forte.
“O poder público precisa mostrar um pouco mais de eficiência. Todos as esferas devem participar ou continuaremos a catalogar por datas os eventos climáticos e fazer nosso acervo de mortos, feridos e desabrigados como vem acontecendo ano a ano”, disse a promotora.
Das ações movidas (uma para cada bairro atingido na época), sete estão com liminar deferida para que as autoridades acelerem o processo de retirada das pessoas dos locais, processamento de aluguel social e garantia dessa população. A Justiça ainda aguarda a manifestação do estado e do município para deferir a liminar das outras três ações.
A promotora lamentou o fato de que as obras dos 1.600 apartamentos previstos pelo governo do estado ainda não tenham começado. “Essas moradias já não atendem à nossa demanda atual. Mais de 1.800 famílias estão desabrigadas desde janeiro de 2011. E agora estamos com cerca de 380 moradias indicadas para demolição devido aos deslizamentos da sexta-feira passada”.
Anaiza estimou que dos cerca de 160 mil habitantes de Teresópolis, 40 mil vivem em áreas de risco de deslizamento. “Temos 90% da população apinhadas em 10% do território e não conseguimos diminuir essa concentração, pois a cidade não está munida de estradas e vias de acesso para as outras áreas ainda livres e tampouco de um sistema eficiente de transporte coletivo”.
Em uma reunião com representantes da Secretaria de Obras do Estado e da Empresa de Obras Públicas ontem (9), a promotora sugeriu que, em vez de construir apartamentos, o governo ofereça lotes urbanizados. “Assim, com o apoio da Caixa Econômica, do governo federal, a população poderia construir suas próprias casas, pois o particular consegue construir de uma forma mais rápida.”