Por Nelson Motta
21.09.2012
Nelson Motta, O Globo
Por graça do acaso, os dois maiores sucessos populares do ano, a novela “Avenida Brasil” e o julgamento do mensalão, vão terminar juntos, ou quase. Condenados e absolvidos pelo Supremo vão se misturar com personagens amados e odiados pelo público, vilões e heróis da ficção e da realidade terão seus destinos cruzados na história viva do país.
Nina e Carminha foram capazes das piores vilanias, mas também poderão ser vistas como heroínas. Não por suas obsessões doentias pela vingança e o poder, mas como sobreviventes dos lixões da vida, que, movidas pela paixão, são levadas a comportamentos heroicos na luta por seus objetivos conflitantes.
Roberto Jefferson e José Dirceu também foram capazes das piores vilanias, mas por suas causas partidárias e objetivos políticos. Movidos por seus instintos mais primitivos, tentam se mostrar heroicos no mensalão, um como mártir da verdade e o outro de uma conspiração das elites. Dirceu diz que o PT pode ter todos os defeitos, menos a covardia. A omertá de Delúbio fez dele um herói, mas Dirceu se imolará por Lula?
Mas o grande herói da novela do mensalão é o ministro Joaquim Barbosa, que passou como um tufão sobre a impunidade de políticos, empresários e banqueiros. Sua já famosa foto de costas, com sua capa negra de Batman justiceiro, virou um ícone que se espalha como um vírus de esperança pela internet, anunciando que a coisa está preta, no bom sentido, para os malfeitores. As redes sociais gritam “Barbosa guerreiro, do povo brasileiro”.
A competência, a independência e a integridade do ministro Joaquim e das ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber têm feito mais pelo orgulho e progresso de negros e mulheres do Brasil do que todos os discursos e campanhas feministas e racialistas recentes.
Nelson Motta é jornalista