sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vocação para a grandeza e para as mazelas

Via Revista Pesquisa FAPESP
Por CARLOS HAAG
Edição 199 - Setembro de 2012

Globalização adotada com rapidez por São Paulo degradou a sua constituição
urbana e social


Nos anos 1920, Oswald de Andrade ironizava a vocação paulistana de ser uma “torcida indígena a favor de um imperialismo ‘civilizador’”, antecipando que esse entusiasmo paulistano seria fonte tanto de suas grandezas como de suas mazelas. “Nos anos 1990, São Paulo já era o centro econômico nacional e reagiu mais rapidamente do que as outras regiões para abraçar e se adaptar à internacionalização da economia, a globalização”, observa a professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) Sueli Schiffer. “Por um lado, isso trouxe uma concentração crescente de atividades tecnológicas e especializadas muito avançadas, com os benefícios de investimentos massivos em infraestrutura em determinadas áreas e a criação de uma força de trabalho qualificada”, conta. “Mas essa rápida aceitação da globalização auxiliou no deslocamento da população pobre para as áreas periféricas, aumentando a já existente segregação social. Sem falar do aumento do desemprego para os menos qualificados, maior informalidade no mercado de trabalho, violência crescente e aumento das favelas”, observa a pesquisadora, coordenadora do estudo Projetos urbanos e desenvolvimento local: financiamento e gestão.

O estudo é uma continuação do projeto temático São Paulo: globalização da economia e estrutura urbana, que Sueli realizou com apoio da FAPESP (1998). Em pleno processo de globalização, a pesquisadora analisou, com notável pioneirismo, de que forma, no Brasil, se dava a relação entre a nova estrutura econômica adotada e a organização espacial. “Numa economia desigual, a estrutura espacial acaba sendo afetada e fica desigual. Houve um aumento da renda concentrada na cidade. Ao mesmo tempo, porém, se deu a expulsão de uma grande parcela da população para áreas distantes e sem estrutura apropriada de moradia, uma redefinição forçada das prioridades urbanas, o aumento da deficiência dos problemas de infraestrutura urbana, em especial no transporte e no meio ambiente, num quadro de miséria e desigualdade crescentes, geradoras de uma violência urbana séria”, observa. A “torcida indígena” acabou gerando esplendor e decadência.

“O planejamento urbano dos anos 1950 e 1960 atuava em cidades com acelerado crescimento e intensos fluxos migratórios, em sua grande maioria vindos da área rural, de população de baixa renda e qualificação. A carência de todos os tipos de infraestrutura, mesmo as básicas como água, energia, saneamento e transportes públicos, eram os desafios mais gritantes da gestão e dos planos urbanos”, explica Sueli. CONTINUA!