quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O jogo não é para todos

Via Contemprânea
Por Carla Rodrigues
Publicado no jornal Valor Econômico
27.07.2012

“Cidades feridas” é um termo com o qual a antropóloga norte-americana Ida Susser, da Universidade da Cidade de Nova York, tem trabalhado há pelo menos uma década e que dá título a um de seus livros. Sob está denominação, está em questão a combinação entre crise e direcionamento de investimentos de forma pouco democrática. “Pânico e ameaças são pretextos para que o setor público se abra a investimentos privados e limite a participação da sociedade”, argumenta ela. O resultado é uma reestruturação urbana pouco comprometida com a população local e muito orientada pelos interesses do capital.

Sobre essas e outras questões Susser falou no seminário internacional “Deslocamentos, desigualdades e direitos humanos”, que aconteceu no início do mês de julho na PUC-SP. Organizado pela presidente da ABA, a professora Bela Feldman-Bianco (UNICAMP), o seminário fez parte da programação da 28a. Reunião Anual da Associação Brasileira de Antropologia, a ABA. Realizada em São Paulo por sugestão do recém-falecido antropólogo Gilberto Velho, a ideia de voltar à capital paulista depois de 30 anos era promover um encontro acadêmico na metrópole – e não em cidades-balneário como Caxambu ou Águas de Lindóia – a fim de estender as atividades acadêmicas além dos limites da universidade. Foram organizadas mostras de cinema, atividades em museus, e o seminário internacional que discute temas contemporâneos para além da agenda acadêmica, como a pesquisa da professora Susser.

De interesse dos brasileiros, em geral, e aos paulistanos e cariocas, em particular, ela estuda as transformações urbanas orientadas pelos investimentos em megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Nesta entrevista, Susser critica a maneira como governos dão prioridade a investimentos em áreas turísticas e relegam comunidades pobres à invisibilidade, numa agenda pautada pelos interesses do capital privado que descaracteriza o ambiente urbano. “A realização de grandes eventos é útil para o capital, mas não é necessária do ponto de vista do interesse público”, argumenta ela nesta entrevista. CONTINUA!